A eleição de Mauricio Macri como presidente da Argentina para os próximos quatro anos é um mais capítulo d relação entre futebol e política na América do Sul. Seu primeiro cargo eletivo através do voto popular foi justamente como mandamás do Club Atlético Boca Juniors. O padrinho político do herdeiro do Grupo Macri no pleito xeneize foi Enrique Nosiglia, da Unión Cívica Radical (o partido mais tradicional do país), uma das figuras centrais no período da redemocratização.
Contudo, a confirmação das urnas no último domingo não é uma novidade no cenário sul-americano. Macri é apenas o quinto cartola do Cone Sul a ocupar o cargo de chefe de estado pela via direta. Temos o antecedente de dois ditadores que foram nomeados presidentes de honra de clubes: Augusto Pinochet, no Colo Colo, e Luis García Meza Tejada, no Jorge Wilstermann. Porém, os dois generais não possuíam uma ligação forte com o futebol e foram agraciados com uma honraria por conta da conjuntura política. O Cacique e o Aviador eram as equipes mais poderosas durante os regimes de Pinochet e Meza, respectivamente.
A trajetória de Macri lembra, guardadas as devidas proporções, a carreira de um ex-presidente sul-americano. Fernando Collor de Melo antes de mostrar que tinha “aquilo roxo” se projetou através do Azulão. Fernandinho era superintendente das Organizações Arnon de Mello quando assumiu a presidência do Centro Sportivo Alagoano em 1973. Com a conquista do bicampeonato alagoano nas duas temporadas seguintes foi nomeado prefeito de Maceió, em 1979, pelo então governador Guilherme Palmeira, cargo que ocupou até 1982 quando se elegeu deputado federal pelo PDS, após a dissolução da ARENA. Já em 1986, ganhou nova eleição, desta vez para o governo de Alagoas como candidato do PMDB. Seu filho Arnon de Mello seguiu os passos do pai e foi o presidente do CSA, com apenas 23 anos, durante o maior feito do clube: o vice-campeonato da Copa Conmebol, em 1999.
Em 1989, mesmo ano em que Collor foi eleito presidente do Brasil, o Club Atlético Progreso conquistava seu primeiro campeonato uruguaio. Quem comandava modesta instituição de La Teja era o Dr. Tabaré Vázquez, neto do ex-presidente do clube Don José Vázquez. No ano seguinte, Tabaré foi eleito intendente de Montevideo com 34% dos votos, sendo o primeiro filiado da Frente Ampla a ocupar um cargo executivo. Foi o candidato da FA nas eleições presidenciais de 1994, 1999 e 2004, quando finalmente a coalização de esquerda conseguiu superar a hegemonia bipartidária entre blancos e colorados, que perdurava no Uruguai desde a Batalha de Carpintería, em 1836. Com índices de aprovação beirando os 71%, Vázquez foi reeleito presidente ano passado, após o mandato do seu sucessor e correligionário José Pepe Mujica.
Nas reuniões do MERCOSUL, Mauricio Macri e Tabaré Vázquez poderão conversar com outro presidente que foi campeão comandando um clube de futebol. O empresário Horacio Cartes tem uma ficha corrida de diversas contravenções, por isso não foi surpresa nenhuma quando ele assumiu, em 2001, a equipe mais controversa do futebol paraguaio: o Club Libertad.
Time de coração do ditador Alfredo Stroessner – que inclusive vestiu a camisa albinegra nos seus tempos de cadete – e de Nicolás Leoz, ex-presidente da Conmebol, o Gumarelo sempre esteve próximo dos círculos de poder. Não é a toa que a cancha do bairro Tuyucuá já foi batizada com o nome dos dois torcedores citados.
O Libertad havia acabado de voltar à Primeira Divisão quando Cartes começou a dar as cartas. Através dos seus contatos, reorganizou a instituição e conseguiu um inédito tetracampeonato nacional além de atingir as semifinais da Copa Libertadores, em 2006, sendo eliminado pelo Internacional, futuro campeão.
Em 2009, filiou-se ao Partido Colorado e no ano seguinte fundou o Movimiento de Honor Colorado, vencendo a disputa interna no tradicional partido paraguaio para escolher o candidato às eleições presidenciais de 2013, nas quais foi novamente vencedor ao garantir 45,1% dos votos válidos.
Quando a Universidad de Chile enfrentou o Boca Juniors pelas semifinais da Copa Libertadores, em 2012, o então presidente chileno Sebastián Piñera estava torcendo silenciosamente para o sucesso do quadro argentino. Além da amizade com Mauricio Macri, o ex-torcedor da Universidad Católica tinha outro motivo para secar La U.
Em 2006, ele se tornara o maior acionista individual – com 9,37% do share e posteriormente 12,5% em 2009 – da Blanco y Negro S.A. – empresa que administra o Colo Colo desde 2005. Entretanto, Piñera teve que vender suas ações na ByN e também da companhia área LAN antes de 11 de março de 2010, dia da sua posse como presidente do Chile.