Raíces de América V

Want create site? Find Free WordPress Themes and plugins.

Por Marcelo Mendez

Pouco menos de um ano após a seleção brasileira desbravar o Mundo e mandar às favas o “complexo de vira-latas” ao bater a Suécia por 5 a 2 na final do Mundial de 1958 organizado pelos escandinavos, o desafio agora era repetir o bom desempenho nos gramados suecos nas canchas argentinas. Tarefa que a julgar pelos nossos últimos resultados parecia algo fácil, certo?

Errado!!!

Quando falamos do Campeonato Sul-Americano automaticamente retemos a algo totalmente diferente da Copa do Mundo, muito por conta das maravilhosas idiossincrasias desse nosso jeitão Sudaca de ser.

26 de Março de 1959, A Batalha de Ñuñez

Naquele momento a rivalidade entre Brasil e Uruguai era a maior do continente, muito por conta do Maracanazo ainda fresco na memória. A impressão que se tinha era que o Brasil poderia ser pentacampeão mundial que nunca conseguiria vingar-se de 1950. Mas ganhar dos celestes no Sul-Americano já era um começo…

Em relação ao plantel campeão na Suécia houve algumas mudanças; na lateral-esquerda aparecia o voluntarioso Coronel, do Vasco da Gama, enquanto que na ponta-esquerda o jovem Chinesinho, que com apenas 18 já era titular do Palmeiras, ganhava uma oportunidade ao lado de Almir, o Pernambuquinho.

1959

O adversário não era de se desprezar com uma linha dianteira composta por nomes de respeito como Héctor Demarco, Guillermo Escalada, José Sasía e Vladas Douskas que eram protegidos por uma defesa de poucos recursos técnicos, mas na qual sobravam huevos em que destacavam-se pela virilidade Néstor Gonçalves, Walter Davoine e William Martínez, este um dos remanescentes de Maracanazo.

Naquela altura do campeonato, a seleção brasileira havia empatado com os peruanos (2 a 2), e batido chilenos (3 a 0) e bolivianos (4 a 2). Já a Celeste goleara os verdes (7 a 0), tropeçado diante da blanquirroja (5 a 3) e derrotado os guaranís (3 a 1). Ou seja, o Brasil estava 1 ponto a frente do Uruguai na tabela de classificação.

A Catimba

Não cabe a mim explicar o que é a catimba. Todos que vivem o futebol sabem da importância deste recurso da ganhar a mente do adversário através da malandragem. É algo inerente ao jogo. No entanto, quando se aborda o tema por estas bandas, imediatamente caímos no maniqueísmo de bandido x mocinho, no qual o papel do vilão é sempre do outro.

Mas houve um tempo em que nós não éramos tão “vivos” dentro de campo quanto os nossos vizinhos, que sabiam utilizar melhor este recurso. E este jogo em questão é um marco.

O Jogo

Foi um jogaço, amigos!

No 1º Tempo, podemos dizer que os orientales desfilaram com o seu candombe no meio da roda de samba, tomando conta da partida e abrindo o marcador com Escalada. Acusando o golpe, o Brasil partiu para o ataque. E após uma dividida entre Almir e o goleiro Leiva, os comandados de Feola partiram por mais…

O Cacete

Craque de bola, esperto, valente, Almir nunca levou desaforo para casa, seja em campo ou na zona, tanto é que sua vida foi abreviada ao se envolver em uma briga no bar Rio Jerez, em Copacabana, no ano de 1973. Sendo assim, por que raios ele haveria de se mixar para um uruguaio defendendo a seleção brasileira na Argentina?

Em uma bola esticada por Formiga, o camisa 1 adversário se adiantou na jogada, mas mesmo assim Almir não evitou o choque. Leiva estende a mão para Pernambuquinho, que antes mesmo de aceitar ou recusar a gentileza observa a aproximação de Davoine e Martínez. Está armada a confusão!

“Foi uma dívida e o goleiro deixou a sola, levei a pior até aí tudo bem, faz parte do jogo. Acontece que quando eu estava no chão, dois zagueiros uruguaios chegaram me xingando de tudo que é palavrão, de macaco, de tudo. Não tenho sangue de barata e na hora já levantei indo para cima” conta Almir em seu livro Eu e o Futebol.

Nesse momento, Pelé chega na treta e tenta pegar Davoine, mas não consegue sendo empurrado pelos uruguaios. Eis que chega a linha de frente brasileira. Orlando Peçanha varre geral, distribuindo socos por todos os lados. Didi adapta sua mais famosa jogada criando a “Voadora Seca”. Sasía também demonstrou a mesma habilidade com os pés, agora com as mãos. Jogadores, comissão técnica e cartolas, todo mundo sai na mão no Monumental de Ñuñez.

O sururu durou cerca de vinte minutos, sendo contido pela polícia, que conseguiu dar prosseguimento ao cotejo. Nos vestiários os corações estavam pulsando forte e a seleção brasileira deveria virar o jogo na bola, pois na porrada a vitória foi apertada.

Tim, Tim, Tim mais um gol de Valentim

“Paulo Valentim foi o cara mais macho com quem já joguei”

Certa vez, no começo dos anos 2000, encontrei seu Chico Formiga na Vila Belmiro, situação da qual eu recordo a frase citada sobre o centroavante que foi o protagonista naquela noite em Buenos Aires.

Paulinho foi um grande!

Na final do Carioca de 1957, jogando pelo Botafogo meteu 5 gols na goleada por 6 a 2 diante do Fluminense. Assim como o pivô da briga contra os uruguaios, Paulo Valentim também se revezava entre as tardes de futebol pela vida noturna.

Foi em uma dessas voltas pela boêmia em que ele conheceu a recifense Hilda Maia, eternizada como Hilda Furacão pelo escritor Roberto Drummond. A moça era uma das mais cobiças no meretrício de Belo Horizonte, quando conheceu o então camisa 9 do Atlético Mineiro, que acabou pedindo a sua mão em casamento. Na cerimônia, em determinado momento o padre faltou com respeito à noiva e Paulo quis partir a cara do religioso, sendo contido pelo padrinho João Saldanha.

Voltemos ao Monumental de Ñuñez. Com a desvantagem no placar, Feola decide arriscar dando lugar à Valentim no lugar do já citado Formiga. Valente como poucos, Paulinho ganhou todas as bolas da zaga uruguaia, na base da trombada, e fez três gols cada um a sua maneira: de rebote, de cabeça e de fora da área, virando o jogo para 3 a 1.

Esta apresentação de gala foi o suficiente para despertar o interesse do poderoso Boca Juniors, que contratou Paulo Valentim na temporada seguinte. Vestindo a camisa azul y oro por 5 anos, Paulinho se tornou bicampeão argentino e também o maior artilheiro da história do Superclásico, com 10 gols em 7 partidas, confirmando a aposta da diretoria xeneize após a sua apresentação de gala na casa do arquirrival.

O Brasil acabou não conquistando o Sul-Americano, ao empatar em 1 a 1 com os anfitriões, na última rodada, que, por sua vez, sagraram-se campeões.

Did you find apk for android? You can find new Free Android Games and apps.

Posts Relacionados

Deixar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar algumas tags HTML:

<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>