Em razão do atual conflito israel0-palestino na faixa de Gaza, decidi rescrever um post publicado no Blog do Birner em abril de 2006 sobre um pequeno time de futebol chamado Bnei Saknin, onde convivem árabes e judeus pacificamente.
Em uma pequena cidade da Galiléia, o futebol desafia os preconceitos e tira a razão dos que acreditam ser impossível qualquer tipo de coexistência entre árabes e judeus.
Em maio de 2004, O Hapoël Bnei Saknin, ou simplesmente Bnei Saknin *, foi o primeiro clube proveniente de uma cidade de maioria árabe a conquistar a Copa de Israel. O triunfo do time da pequena Sakhnine de apenas 25.000 habitantes foi inaceitável para os hooligans extremistas do Beitar Jerusalém.
No dia seguinte, inconformados, os torcedores do time da cidade santa, que são em sua grande maioria simpatizantes da extrema direita sionista, decretaram a morte do futebol de Israel.
Recentemente, a direita ultranacionalista anti-árabe obteve considerável apoio na última eleição para o parlamento israelense, vislumbrando um cenário ainda mais complicado para o processo de paz no Oriente Médio. A figura que representa esta vertente é a do populista de origem moldava Avigdor Lieberman, líder do partido Israel Beitanu (“Israel nossa casa”). Lieberman é o maior incentivador da não integração entre árabes e judeus. Segundo ele, os árabes israelenses não são fiéis ao estado hebraico e representam uma enorme ameaça à segurança nacional.
Não muito longe de Sakhnine, em seu reduto eleitoral Nazarteh –Illit ou também conhecida por “Lieberman city”, o candidato do Israel Beitanu apoiado pelos judeus russófonos, teve como principal slogan em sua campanha a luta contra a “deslealdade árabe”: “Sem cidadania, se não há lealdade”. Segundo ele, não seria normal que árabes israelenses apoiassem os inimigos de Israel, como por exemplo, o Hamas, e continuassem a receber os benefícios do Estado.
Durante sua campanha, Lierberman prometeu fazer passar uma lei em que obrigaria os árabes israelenses a prestar juramento de lealdade ao Estado hebraico sob pena de ser tirada a nacionalidade israelense.
Indignado, na véspera das eleições, no dia 9 de fevereiro daquele ano, o presidente Shimon Peres denunciou publicamente as hostilidades cometidas pelo candidato do partido ultranacionalista: “Como chefe de Estado, estou muito preocupado com as incitações à violência contra uma parte da opinião publica. Os Árabes israelenses, cidadãos de Israel, têm os mesmos direitos e deveres de que qualquer outro cidadão”.
Obviamente que o futebol também não ficaria imune aos preconceitos. Quando o Bnei Saknin joga fora de casa, os seus torcedores são recebidos pelos adversários com cantos e insultos racistas, sobretudo dos torcedores do Beitar Jerusalém e do Maccabi Tel-Aviv, anfitriões nada amáveis devidos seus ideais racistas e nacionalistas.
No entanto, da cidade de Tel Aviv veio uma mão amiga. Os membros da torcida organizada do Hapoel Tel-Aviv, os Red Workers (politicamente voltado pra esquerda), entraram em contato com os torcedores do Bnei Saknin e organizaram uma manifestação conjunta contra o racismo.
Antes do jogo entre os dois clubes, um grupo de aproximadamente 50 pessoas do Red Workers foi convidado para passar o dia em Sachin, com direito a uma pelada e almoço. Já durante o jogo, os torcedores do Hapoel Tel-Aviv foram recebidos pelo prefeito de Sakhnine e colocaram faixas com mensagens contra o racismo junto as dos torcedores do Bnei Saknin.
O Exemplo
Pequeno oásis da tolerância, o Bnei Saknin tem em seu time titular quatro árabes, quatro judeus e três estrangeiros oriundos de África. Para distinguir os leitores da Tora com os do Corão, é preciso esperar a entrada do time em campo. Na saída do vestiário, os jogadores judeus colocam a mão na mezuzah fixada no canto da porta. Nas arquibancadas a integração é a mesma do gramado. Walid, chefe da torcida organizada, comanda sua trupe em árabe e em hebraico. “Nossa torcida conta com a participação de aproximadamente 50 judeus, durante o jogo, gritamos e cantamos juntos. O Hamas? Que Hamas? Esses caras nos consideram traidores. A gente leva porrada de todos os lados. O estádio é o nosso único refugio” declarou o líder da torcida.
Uma população árabe mais integrada do que ameaçadora:
Em Israel, 20% da população é de origem árabe. Portanto, quem, entre esses cidadãos não judeus, apresenta concretamente uma oposição política e identitária irredutível ou até ameaçadora contra Israel, sendo ele um país do povo judeu em grande maioria dentro de seu Estado nação?
Vejamos quem são estes árabes:
Mais de 100 000 Drusos se distinguem por dois motivos: primeiro, por votarem a favor dos partidos sionistas, como por exemplo, o Likud, e segundo pelo ponto de vista militar, formando uma das melhores unidades de combate do exército de Israel (Tsahal) (enquanto que os Haredim (judeus ultra-ortodoxos) escapam do exército e grande parte se posiciona contra o estado de Israel).
Aproximadamente 130 000 árabes cristãos que se mobilizaram contra a construção de uma mesquita em frente à igreja da Anunciação em Nazareth (2000), temem a escalada do islamismo radical em relação às pressões suportadas por seus corregionarios na Cisjordânia, em Gaza, no Líbano ou ainda no Egito (os coptas).
Mais de 150 000 beduínos (todos muçulmanos) participam da vida militar e política israelense, mesmo se há graves problemas sociais que os opõe às vezes (com razão) às autoridades. Qual seria o interesse desta minoria em enfraquecer ou até mesmo destruir um Estado que lhes oferece condições necessárias para o desenvolvimento individual e comunitário, muito melhor do que aquelas dadas pelos os países vizinhos?
Quanto aos 900 000 árabes muçulmanos (não beduínos) que se auto-proclamam “Palestinos de Israel”, nunca constituíram uma “quinta coluna” durante as guerras árabes-israelenses. Apenas se manifestam, geralmente sem violência, contra o governo israelense, como por exemplo, durante as “jornadas sem terra” e as fases agudas da Intifada. Não obstante, em 1995, um deles ajudou um terrorista palestino de Gaza a cometer um atentado em Israel, depois outros se transformaram, mais tarde, em Kamikazes. Todavia, estes indivíduos representam a minoria. Atualmente, a ameaça estratégica em que representa os “Árabes israelenses” continua somente na teoria.
Shalom significa paz em hebraico
Salam significa paz em árabe
*Bnei Saknin: filhos de Saknin