*Por Luiz Thunderbird
Eu sempre convivi com os vilões. Eles sempre estiveram presentes no cinema, na TV, na política, na escola, no trabalho, em alguns momentos até na vizinhança. Claro que eu tenho um certo olhar benevolente pros vilões vingadores. Aqueles que fazem justiça, reivindicam vingança aparentemente justa e tal. Não estou falando daquele juiz do STF que veste sua capa do Batman e tem uma aposentadoria confortável.
Lembro do primeiro episódio de “Relatos Selvagens”, quando o protagonista consegue colocar num avião todos os que lhe desgraçaram a vida. É trágico, mas é cômico também. Quando o psiquiatra, a bordo, declara que a culpa de tudo era dos pais do sequestrador, ele mostra que está ciente disso. Tanto que joga o avião em cima do jardim onde estão os genitores. O filme segue com outras vinganças espetaculares. Recomendo muito! O filme, naturalmente. Não recomendo vinganças sanguinárias, por favor! O filme está disponível no site HBO-GO.
Tem um personagem da ficção televisiva on demand que considero muito injustiçado. O nome dele é Saul Goodman. Na verdade, o nome é James McGill, mas ele abandona o nome de batismo por questões práticas, ainda a saber nas próximas temporadas da série Better Call Saul.
James McGill era conhecido na sua cidade natal como Jimmy Sabonete. Ele aplicava golpes e era respeitado por isso. Seu irmão, este sim, um respeitado advogado, sempre livrava a cara dele. Até o dia em que ele desistiu da vida fácil e foi trabalhar na firma de advocacia desse irmão. Secretamente, fez um curso de direito por correspondência, acreditando que teria uma chance nessa mesma firma. Isso nunca aconteceu.
Pra entender a coisa toda é recomendável assistir outra série, “Breaking Bad”. Ali, Jimmy, já transformado em Saul Goodman aparece e divide situações com os protagonistas. Então, vamos a um breve resumo Breaking Bad.
Breaking Bad- Disponível na Netflix
Um professor de química, Walter White, resolve ganhar uma grana com seus dotes profissionais e se transforma no melhor produtor de metanfetamina do mundo. A primeira justificativa é a de que ele precisa do dinheiro pra pagar seu tratamento de câncer. Com o tempo, percebe-se que a motivação é outra. Poder, controle, até mesmo se vingar dos antigos sócios que se tornaram milionários com uma ideia que era dele. Walter White inicia uma parceria com Jesse Pinckman, seu ex- aluno, e vai alcançando sucesso no objetivo de ser um bilionário das drogas. Mas a obsessão do Sr. White vai além disso. Ele sente ciúmes do seu produto quimicamente perfeito. Ele vai progressivamente eliminando seus inimigos, um a um, as vezes de forma bastante violenta. Ele se torna cada vez mais frio na execução do seu plano de dominação e egolatria. O que me chamou a atenção é que eu me vi torcendo por ele. A cada superação de obstáculo eu respirava fundo, junto com o personagem. Ele sempre tinha uma justificativa, fosse a família, a honra, a doença, mesmo um patrão mil vezes mais maligno que ele próprio. Breaking Bad é uma da minhas séries preferidas. Já assisti várias vezes todas as temporadas.
Aqui, o trailer da primeira temporada:
A trilha de abertura é ótima, e a que fecha os episódios, varia nos arranjos, sempre incríveis. Músicas incidentais também são muito bacanas. Esse cuidado com a trilha sonora, pra mim, é importantíssimo. Tem passagens que são verdadeiros videoclipes musicais.
Tem essa cena numa boate com o personagem Jesse Pinckman…
E uma das cenas prediletas, quando o assistente do Walter White, Mr. Gale, faz um karaokê de Crapa Pelada…
Num total de 62 episódios em 5 temporadas, a trama se desenvolve muito bem. O protagonista vai mudando de status, de professor de química obrigado a fazer bicos num lava-rápido, a multi-milionário que não consegue guardar, lavar ou contar a própria fortuna. O final é trágico, mas deixa a possibilidade de uma continuação. Eu sempre torço por isso. Mas existe uma alternativa: a vida do advogado que era associado ao chefão do tráfico em Albuquerque, Gustavo Fring e passou a “cuidar dos negócios” de Mr. White, Saul Goodman. A maioria dos amigos que assistiram Breaking Bad não conseguiu assistir Better Call Saul. O personagem era secundário, o ator (Bob Odenkirk) era ofuscado pelas interpretações de Brian Cranston e Aaron Paul (vide o episódio onde Walter White fica trancado no laboratório alucinando, obcecado por caçar uma mosca que invade as instalações impecáveis que ele comanda. Num determinado momento, os atores desenvolvem um diálogo fantástico, intenso, dramático, avassalador!
Esse é só um trecho deste momento espetacular:
Mas quem ficou na obsessão pela série, como eu, precisava de uma continuação. E ela veio com Better Call Saul.
Better Call Saul- Saul Goodman aparece nas primeiras temporadas de Breaking Bad. Ele é advogado criminalista e faz de tudo por seus clientes suspeitos. Quando eu pedia a continuação de Breaking Bad, meus pedidos foram atendidos com a biografia de um dos personagens mais cômicos da série.
Aqui, um teaser:
O primeiro episódio faz a transição de Breaking Bad para Better Call Saul. Mostra como o advogado se tornou atendente de uma lojinha num shopping center, para escapar das garras da polícia. Mas essa é só a introdução, pois o roteirista te faz voltar no tempo, na época em que James Morgan McGill trabalhava como advogado porta de cadeia e cuidava do irmão com uma misteriosa doença. No primeiro episódio vemos Jonathan Banks no papel de Mike Ehrmantraut, o chefe de segurança que trabalhava em Breaking Bad. Tuco, o traficante mexicano psicopata de Breaking Bad, chega no segundo episódio.
De cara, percebe-se que Jimmy McGill é um bom sujeito. Espertinho, mas um cara bom. A vida o empurra pra situações em que ele escorrega pra desonestidade. Mas ele é gente boa, um sacana gente fina, digamos. Quando ele consegue engrenar uma onda de trabalho honesto, ainda como James McGill, ele começa a atender idosos. Serve potinhos de gelatina aos clientes, onde no fundo da embalagem se lê Need a will? Call McGill! Genial!
Trailer da segunda temporada:
Na Série The Sopranos aconteceu algo estranho. O protagonista era um tremendo mau caráter!
Tony Soprano, um gângster inescrupuloso, comandava negócios escusos, era um mafioso destemido, ameaçava a psicoterapeuta, intimidava pessoas violentamente. Cheguei a ter um ponta de simpatia por ele, mas não muita!
Dexter, personagem da série homônima, por outro lado, era um serial killer que fazia picadinho de pessoas más. Torci por ele varias vezes.
Voltando para Better Call Saul, o mesmo tem acontecido com James McGill, um picareta adorável. Ele é tão sacaneado pelo irmão, pela vida, que desperta um sentimento de admiração por sua arte de trapacear e tentar se vingar do destino.
Com o tempo, eu percebi que ele teve uma situação que o levou a ser desonesto. Uma passagem com seu pai, na loja administrada por ele, quando é trapaceado por um vigarista e o jovenzinho Jimmy percebe o truque, alerta o pai, que prefere acreditar no ser humano. O adulto Jimmy reuniu forças pra tentar se redimir do passado desonesto. Mas, pasmem, ele foi sacaneado pelo próprio irmão certinho. Mas o que fez James McGill se transformar em Saul Goodman?
Essa curiosidade está me matando!
Acontece que a terceira temporada de Better Call Saul estreia nesta terça-feira, dia 11 de abril, na Netflix, quando supostamente ele conhecerá Gus Fring e a empresa Los Pollos Hermanos (ambos de Breaking Bad).
Gustavo Fring vai, provavelmente, ajudar na transição de Jimmy McGill para Saul Goodman, ainda não tenho certeza. E, se soubesse, não daria a mancada de um spoiller aqui.
E eu não vejo a hora de assistir os próximos capítulos dessa trama.
Apenas uma recomendação! Assista primeiro todas as temporadas de Breaking Bad. Só depois, se jogue em Better Call Saul.
Se você começou e desistiu, faça uma forcinha. Vale a pena.
Dê uma chance para Saul Goodman!
It’s all good, man!
*Luiz Thunderbird é músico, apresentador de TV e comanda o Thunder Rádio Show na Central3.