Coitados

 

Não queria falar de política aqui nesse espaço concedido a mim pelos sempre queridos da Central3. Nem tenho expertise para isso. Estudei um pouco do assunto nas minhas graduações, já escrevi sobre o tema em algumas matérias freelancer ou quando ainda era repórter de rádio, mas estou longe de ser um especialista. Também evitarei falar de futebol por aqui, boa parte da minha vida profissional está em cima da paixão nacional, e assim como em política, me considero apenas um pitaqueiro.

Pensei em usar esse espaço pra falar sobre amenidades e coisas não tão interessantes, sempre com uma dose de humor e sarcasmo, tipo os astros do zodíaco ou as estrelas do reggae (esperam que tenham entendido as referências). Mas o período que Pindorama passa pede para nos posicionarmos. O muro está estreito e nem o melhor equilibrista, do maior circo russo, consegue ficar em cima dele. É preciso escolher de que lado vai querer ficar.

Pego agora meu diploma de cientista político de mesa de bar e vou encher vocês com mais um textão. Pelo menos esse não está no Facebook. Este é um dos meus privilégios. Para quem ainda não sabe sou negro e nordestino, duas categorias que segundo o capitão peidão precisam acabar com o coitadismo. Também estão dentro dessa esfera, segundo o fujão dos debates, mulheres e gays. A junção da geração millenium com os neo-nazifacistas chamam a luta por direito e igualdade de mimimi e votam em peso na besta-quadrada militar.

Vejamos: a chance de um jovem negro morrer violentamente no Braza é duas vezes e meia maior do que um jovem branco. Coitados dos brancos. Em toda eleição nacional a região Nordeste sofre com ataques xenófobos e críticas caricatas. Coitados dos sulistas e sudestinos. Pindora é o país que mais mata LGBTs no mundo, um morre violentamente a cada 19 horas apenas por ser quem é. Coitado do homem branco hétero cis. Esse safari travestido de país é o 5º no mundo em número de feminicídios. Olha o homem branco hétero cis sendo coitado mais uma vez.

Onde se enxerga vitimismo e coitadismo realmente há vítimas, e os números do parágrafo acima mostram bem isso. Como um jovem branco classe média vai justificar aos pais que investiram milhares de reais na educação particular do filho, que uma menina vinda da periferia de lá de São João de Longe e entrou na universidade pública graças ao sistema de cotas tem um desempenho acadêmico melhor que o dele? O Fabinho e a Jéssica, do filme Que Horas Ela Volta se tornaram ao mesmo tempo uma realidade para quem sempre foi coadjuvante numa centralizada do Sul/Sudeste e um pesadelo para classe média quatrocentona dessas mesmas regiões. Para eles é hora de acabar com esses privilégios de igualdade, e há um candidato truculento prometendo fazer tudo isso. Como essa gente não vai amá-lo?

Mas quem promoveu tudo isso, acho que já tinha feito o necessário e se acomodou. Tinha e tem muito mais a ser feito por esse povo que é desfavorecido desde que o primeiro canalha português pisou nessas terras em 1500. É incompreensível que esquerda-classe-média-branca-vamos-abraçar-as-árvores ainda queira dar as cartas do jogo das minorias sem ouví-las. Ou se ouve e se faz de acordo com que as periferias e o rincões, que são a maioria, querem ou teremos que conviver com o retrocesso conservador por muito tempo ainda. 2022 ou será uma eternidade ou nunca chegará. Quem tiver fé que acredite na virada. Daqui, continuo sendo esse cético que acredita em milagre e com o mesmo pensamento de Mano Brown, uma das cabeças mais lúcidas da nossa sociedade, dá pra apoiar e criticar ao mesmo tempo. Há um interesse muito maior em jogo.

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A corajosa Seleção Arco-Íris

Sabiam que corriam perigo, mas era por necessidade. Os seis integrantes do projeto The Hidden Flag tinham a necessidade de se expressar, de protestar, de gritarem “Presentes!” na Copa do Mundo. A Rússia, LGBTfóbica da raiz às folhas, foi desafiada e enganada. Seis cabeças erguidas acima de camisas de seleções desfilaram por Moscou com a bandeira do arco-íris oculta e exposta em seus corpos. Chama-se coragem.

Cada um com coragem de afrontar, mesmo que com artimanha. Coragem para se prontificar a ir, mesmo consciente de todos os riscos. Coragem desde que viu o convite da Federacion Estatal LGBT, de Madri, pensou que queria ir, repensou se queria ir, decidiu que queria ir. Foi. Pensou se realmente era firmeza ir às ruas, repensou, vestiu a camisa, se encontrou com as parcerias. Foram.

“Você tá maluco? É muito perigoso”, avisou o namorado de Eloi Júnior, o brasileiro no protesto.  Era a preocupação, aquela cola que não deixa o que já de ruim te ocorreu sair do pensamento. Ele garantiu: “O risco não me importa. É um projeto que quero muito participar”.

Eloi tem uma história não muito diferente de tantos homossexuais. Família conservadora, cidade conservadora, meio ambiente conservador a enfrentar e o condenar. Cresceu, como eu, em um Brasil onde a homossexualidade, a bissexualidade, a transexualidade e a interssexualidade nos são apresentadas como as maiores vergonhas para a família, para os amigos, para a própria pessoa. E você se encolhia, se escondia, se culpava, se sentia o erro, a desonra, a pior das condições, a que a sociedade tinha razão em odiar. Era contra a natureza, os desígnios divinos, a família tradicional.

“Já tá errado por ser viado.” Ouviámos direto, deslegitimando qualquer reivindicação, tivesse ou não a ver com homossexualidade. Onde o desencaixado sexual tinha, no máximo, o direito de se calar, se retirar, para não apanhar. Aprendemos a nos encolher para sobreviver.

O clima mudou e meio mundo se conectou, se reconheceu, se deu as mãos, ganhou incentivo, ganhou disposição e coragem para ir às ruas determinado a não se negar mais. A retirar véus. Meio mundo se deu às mãos para o confronto. O Bandeira Escondida (The Hidden Flag) é um exemplo.

Na Rússia, o meio mundo ainda é menos que metade. Dá cadeia exibir afetos e símbolos LGBTs. Os seis ativistas eram a vulnerabilidade caminhante. Foram um misto de Espanha, Holanda, Brasil, México, Argentina e Colômbia com medo e com perseverança, com decisão de lutar, com reafimação da decisão, com respirar fundo, com seguir em frente, com a lucidez emparelhando com a loucura, o que deu em coragem. Deu em desataque de prudência, que ativista tem ao emprestar o próprio corpo a uma causa.

Fizeram fotos, postaram na web, passaram na cara. Causa se defende não apenas com amor e informação. Desaforo dá ânimo e satisfação.

Bastava que alguém desconfiasse e denunciasse. Bastava algum policial reconhecer a ordem das cores. O cassetete descia. Consideram afronta, desrespeito ao país. Odeiam. Agridem.

A violência, na vera, não é por causa dos beijos em público, nem pelas bandeiras levantadas, pelos atos políticos. São só atitudes que causam mais raiva. A violência vem por nossa existência. Antes das paradas, dos carinhos ao ar livre, da autoestima e da não autocriminalização já havia espancamentos e mortes. Odeiam a nós por sermos quem somos, mesmo a quem insiste em um armário que pouco dá segurança.

Os seis sabiam que era arriscado. Poderiam ganhar ou perder. Perder feio. Ganharam. Caminharam torando aço, mas chegaram a um campeonato que lhes será eterno a cada jogo: o de ter coragem de entrar em campo.

 

 

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A missão de ser homem e escapar do molde

Ao receber a notícia cada vez mais extravagantes nos chás de revelação, preste atenção na cara do pai. Se a cor for rosa, ele se frustra. Se for azul, ele salta e grita. “É homem!”, comemora. “É macho!”, para ser mais preciso. Convidados aplaudem, parentes se emocionam e confraternizam. “Se fosse menina, teria reação igual”, disfarça. Preste atenção na cara do pai quando lhes revelam que é menina e me digam se não é a estampa do desânimo. “Mas é só brincadeira”, garante. Mas é de brincadeira em brincadeira, cada vez mais cruéis, que serão moldados meninos e meninas, homens e mulheres.

Vamos focar nos meninos, que se engana quem acha que têm uma socialização fácil e sem pressão:

“E as namoradinhas?”
“Honre o que você tem entre as pernas?”
“Já tá vendo revista de mulher nua?”
“A rola já ficou dura?”
“Prendam suas cabritas que meu bodinho tá solto.”
“Larga esse gibi e pega uma Playboy?”
“Aquela menininha bonitinha daquela casa, vai deixar escapar?”
“Tem que começar a incentivar esse menino a olhar mulher senão vira viado”
“Bora fazer a lista das mais gostosas da sala!”
“Imagina fulana só de tanguinha.”
“Homem é assim mesmo.”
“Peguei ela e agora tô mirando na amiga.”
“Engula o choro. Homem não chora“

“Homem não é santo. E a mulher sabe disso.”
“Existe moça para casar e a para se divertir.”
“Aquela ali é muito rodada. Só quem é doido vai namorá-la”
“Casar para comer no mesmo prato todo dia, quem aguenta?”
“Não vai pegar não? Tá virando bicha?”
“É só insistir, dá umas doses, que ela dá fácil.”
“Tá com aquela saia é porque tá querendo.”

“Você não é homem não?”

Qual homem não recorda de tais cobranças, mesmo que mascaradas de brincadeira? Qual não as obedeceu o máximo possível para afastar a desconfiança? Se hoje, você amigo, se considera mais relaxado e até avesso a tais exigências, volte algumas casinhas no tempo e puxe tuas lembranças de adolescente e até de garoto mesmo.

Do seu tio que insistia em afirmar que você (criança) teria um pau tão grande quanto o dele, te encabulando em plena sala de estar. De sua tia que garantia (e te coagia) que você seria o terror das meninas da escola em pleno almoço de família quando você ainda curtia Superamigos. De seus colegas de classe que zoavam e até batiam no menino mais afeminado para expulsá-lo para sempre do convívio e torná-lo um exemplo de vergonha, que faziam brincadeiras agressivas como medir o tamanho do membro no banheiro e dar pedaladas na nuca do perdedor para taxá-lo para sempre de menos homem.

De você protegendo irmãs e primas de caras escrotos. Erguendo barreiras entre elas e eles porque você os conhecia e sabia que aquela doçura inicial era lábia cínica. Com as meninas, o papo era “eu te amo”. Com os rapazes, era: “Ganhei aquela buceta”.

De como você fazia parte do jogo, porque esse jogo era para homens e estar fora dele era não ser homem. Lembre como você protegia irmãs e primas por serem suas irmãs e suas primas e não por ser solidário a mulheres. De o quanto você foi ridicularizado por um amigo ao demonstrar tristeza e chora pelo fim de um namoro. O quanto aquilo te impede até hoje de demonstrar sentimentos e esconder olhos marejados. Das brigas que arrumou por namorada, por futebol, em bar, para não deixar cair a pose de garanhão e macho alfa. Daquela foto que seu amigo postou do filho com a legenda “Derrubador de novinhas”. E você foi lá e curtiu.

De como você, mesmo sendo homo ou bi, absorveu o veneno. De como patrulha atitudes de outros homens. Qualquer deslize em direção ao que se padronizou como viadagem e pronto: ele é enrustido. Se ele beija o amigo na face, ele é gay. Se ele gosta de caipirosca de morango, ele é gay. Se ele usa camisa apertada, ele é gay. Se prefere chá a café, ele é gay. Se ele arruma o cabelo com mousse, ele é gay. Se ele defende os direitos LGBT, ele é gay.

O cara gay ou bi não vem de Urano.  Passaram pela socialização danosa como qualquer outro homem. Têm infiltrado a heterossexualidade, sobretudo masculina, como algo imaculado. De uma pureza sem igual. Não admitem, sob hipótese alguma, que um cara hétero tenha uma relação homo. Nunca. Como assim? Como aquele ícone de perfeição e formatação retilínea pode ter saído do prumo? Jamais. Homem hétero é inviolável. Ocupa o pedestal dos inalcançáveis.

Esquecem que há gays que transaram com mulheres, que têm filhos, que fizeram não apenas por disfarce, mas por vontade, mesmo que esporádica, e não deixaram de ser gays. Mas os héteros não. Eles de jeito algum. São puro-sangue.

Esquecem que os estupros entre homens na prisão ocorrem entre homens héteros. Que é um estupro para reduzir, que não há tesão corporal, que serve para colocar a vítima na condição de mulher, condição considerada inferior. Que é para mostrar quem é o dominante. Esquecem que a orientação sexual não é uma cerca elétrica. Focam no senso comum. Hétero, se faz, é viado no armário.

Como se houvesse um pacto entre homens para idolatrar a heterossexualidade e enchê-la de normas e entraves. Ou apertada em um molde ou não é. Homem com as contradições e possibilidades do humano não é homem, dizem.

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Aquela palavra incômoda que começa com “v”

Medo da própria torcida é o que o cara gay vive em um estádio de futebol. Medo que a descubram e medo de todo rosário de agressões desfiado após a descoberta. Time de viado é o do lado de lá, grita o lado de cá. Do lado de cá só se aceitam guerreiros, machos, marrentos, aquele rol de palavras que, de ouvir, são de imediato coladas à heterossexualidade masculina. Nada que lembre coisa de mulher é permitido, que vira logo viadagem, que desmerece, é a pior das ofensas, desperta a vontade de resolver no murro.

É o que o palmeirense William de Lucca viveu até não aguentar mais. Mandou a real: “Tem viado no Palmeiras também, sabiam?” Olha que verdade dolorida de ouvir. E parte da sua torcida passou a ameaçá-lo de morte. “Viado aqui não!” A mesma frase que a torcida corintiana carregou em uma faixa, quando Emerson Sheik postou uma foto dando um selinho no amigo.

“Viado aqui não!” é o berro geral nesse jogo pré-estabelecido em que os machos se veem mais unidos e mais fortes. Como que acorrentados ao ideal de superioridade. Agora mais que nunca. Perceberam que não é bem assim, que nunca foi bem assim. Entre tantos torcedores e tantos jogadores, impossível nunca o manto sagrado ter sido usado por gays, quem sabe, até ídolos.

Viado lá e cá sempre houve. Basta pesquisar sobre torcidas organizadas LGBTs pelo Brasil. Mas geral faz de conta que não, que eram excentricidades isoladas e desconsideráveis, que futebol é coisa de macho, só de macho, unicamente de macho. Sabem que houve árbitro gay. Sabem que tem aquele amigo gay que vai ao jogo junto. Sabem que tem aquele gay famoso que postou foto comemorando o título. Mas geral faz de conta que não.

Geral quer manter o viado no espaço do insulto. Continuar com o grito de “Todo viado que eu conheço é… (o lado de lá)” quando tem um bocado de viado do lado de cá. Geral quer ofender e desconhece palavra melhor para o serviço.

Aí surge quem bote a boca no trombone da rede social e diga: “Tem viado aqui com vocês. E viado não é ofensa. Não é ser pior que macho não”. Geral bugou.

Chamar de viado depende da intenção, do sabor que se dá à palavra. Já fui muito criticado por usar “viadagem”, “bicha”, “miga” para me referir a gays. Entendo. Sempre é um debate áspero. E é para ser mesmo. São palavras petardos. Moldadas para bater e tirar sangue. Cunhadas em sua origem para nos humilhar e reduzir. Mas linguagem, como sempre defendo, é contexto.

Coloque uma entonação de voz depreciativa e até as corretas, as aceitas, “gay” e “homossexual” ganham um tom pejorativo. “Não se junte com aquele gay”, “Esse povinho homossexual quer dominar o Brasil”. Tem ou não tem desprezo e preconceito?

Viado sempre assustou gays brasileiros, vai continuar assustando, por não ser a palavra em si que dói, mas como vem recheada. Até a grafia ficou especial. Ganhou um “i” no lugar do “e”, se solidificou assim, para mostrar, mesmo que inconscientemente, que o gay é, digamos, ainda menor que o bicho.

Viado é a macheza ao contrário, uma ameaça à estética e ao comportamento esperado de quem nasce com um pênis. Traz uma rebeldia.

Acompanhe: Viado reforça que no topo do ecossistema está o macho e a cesta de produtos que ele representa. Macho: superior, valente, determinado, masculino. Viado: desonroso, covarde, desprezível, risível, feminino. Quando se elogia com “macho” se celebra os papéis bem definidos e aclamados de macho e fêmea. Quando se xinga com “viado” se faz o mesmo. Ambas as situações mantêm o status quo e aplaudem o preconceito. É a homofobia gritando gol.

É o hétero no protagonismo, que se dá um deslize não escapa do “Huuuuuummmm!” da desconfiança. É o gay nos bastidores, na autopatrulha, passando atestado de masculinidade para ser mais aceito, não fazer vergonha, receber parabéns por ser decente e conseguir sobreviver sem um arranhão. É todo homem vigiando a voz, o jeito de sentar, os quadris, as munhecas, seus e alheios. É o gay feminino empurrado para longe para não queimar o filme. É o orgulho hétero tendo um concorrente ainda mais danoso: o orgulho de parecer hétero.

“Viado”, “bicha”, “baitola” carregam um ranço inegável. Reciclar requer esforço e consciência de que continuarão ferindo em certas ocasiões: uma torcida inteira cantando como chacota, por exemplo. Mas se apropriar da fala opressora e torná-la sua é uma estratégia de luta bem interessante. Esvaziar o discurso do significado antigo é produtivo, ainda que demorado. O impacto da fala ainda machucará, ainda é contexto. “Todo gay que eu conheço é…” Mudou muito?

“Seu viado!”, sem dúvidas, ainda assusta. Levar pela cara ainda arde. A inhaca está longe de sair, de não incomodar, de fazer de conta que inexiste.

Mas “gay” também foi uma palavra usada para oprimir. “He is a gay guy”, desdenhavam. O que a militância dos EUA fez? Trouxe a palavra para si. Desmontou-a de tal modo que hoje dá nome à comunidade por lá. Aconteceu o mesmo com “queer”. É garantia de limpeza para “viado”? Não. Nem todo o Vanish dos supermercados dá certeza de que dará certo.

Talvez nem seja indicado lavar demais. O excesso de desinfetantes na higienização, tantas vezes, sufoca. Um cheirinho de desautorizado, subversivo, provocador e desobediente à lógica heteronormativa pode caber bem a “viado”, “sapatão”, “bicha”, “saboeira”, etc . Eu, pelo menos, não pretendo, nem quero, ser um Bebê Johnson de tão limpinho.

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Se ser gay é escolha, ser hétero não é natural

Nada custa um replay: não se escolhe ser gay. Não se é vítima de uma tarde tediosa de sábado, onde, desmotivado e esparramado na poltrona por uma vida hétero repetitiva e sem emoções, se lixa as unhas e se conclui que a homossexualidade é a abolição de da chatice. Não se coloca um jeans apertado, não se decora correndo o último hit de Demi Lovato ou Beyoncé, e não se aperta o passo para alguma boate pegar um boy magia.

Mas e se fosse escolha? Digamos que acordei, assisti a um filme, vi um beijo entre dois caras e bati o martelo: “Vou ser gay. Olha que legal!” Nem liguei se desde criança presenciei insultos contra a comunidade LGBT. Pouco me importa se tive uma vida escolar onde a homossexualidade era o principal alvo de zombarias e humilhações. E daí se xingam, agridem e matam gays por aí apenas por serem gays? “É o que quero para minha vida”, concluí.

Pegar homem é modinha e eu precisava me atualizar. Qual seria o problema? Não seria uma decisão pessoal dentro do livre-arbítrio? Que ameaça eu seria? Seria?

Na vida real, gays, lésbicas, bis, trans e outros grupos têm o tempo inteiro que repetir que existem desde tempos imemoriais, que estão relatados na história da civilização tal e mais tal, que há casos confirmados em outras espécies animais. Que são normais, naturais. Que simplesmente suas sexualidades e identidades afloraram, mesmo emparedadas pelo medo, quando lutaram contra, quando tentaram se sufocar.

Se existe alguém da comunidade LGBT que despertou de boa, sem problemas, que fluíram sem represas como os héteros, sem se explicar como naturais, sem ter que convencer a si de ser normal, eu gostaria de ler ou ouvir tal depoimento. Seria a uma boa prova de que nosso entorno muda mais rápido que noto.

No entanto, o que conheço é gente cansada de dizer, mesmo que nas entrelinhas: “Não é minha culpa”. A busca por direitos, respeito e compreensão ainda é pautada pelo laudo: “Não tenho como não ser assim”.

Tenho que fazer um mundaréu de gente crer que sou uma criatura natural assim como um sabiá. Caso contrário, as pessoas se dão o direito de me excluir, me espancar ou de me destruir. Como a um robô no filme Inteligência Artificial. “Mata que não foi deus que fez.”

Há um medo bem profundo e denunciante nesse contexto. Se qualquer um fora do frasco hétero cis o fosse realmente por escolha seria a prova de que heterossexualidade cisgênera é uma escolha também. Que se pode mudar. Que há desejos ocultos, pulsantes e inconfessáveis lá por dentro do macho padrãozinho.

Seria a heterossexualidade uma bagunça? Fosse tão natural e divina, seria imutável. O que leva a pensar que a abandonamos?

Seria a heterossexualidade cis frágil como uma película de cristal? Não suporta a concorrência? É tão tentador assim transar com o mesmo gênero? É tão apetitoso assim assistir a um beijo gay?

Às vezes, desconfio que a heterossexualidade seja um blefe. De tanto cuidado que a cercam. Até uma caipirosca de morango tem o enviadamento na fórmula, segundo os fiscais de pinta.

Se homossexualidade é escolha, que se pode abraçar, heterossexualidade também é, pois se pode desistir.

Sempre percebi que a heterossexualidade não se limita a uma orientação sexual. É também uma honra enganchada em uma imposição social para que tal honra seja mantida e ostentada. Inadmissível colocá-la em risco.

Desde criança, menino tem que brincar e se vestir como menino e menina, como menina. Como se azul e rosa, carrinhos e panelinhas, Max Steel e Barbie, fossem escudos de virbranium que blindam contra possíveis invasões demoníacas, contra desejos e impulsos latentes. Procede?

Pais e mães, ainda que neguem, se orgulham de seus filhos que se mostram pegadores e se vangloriam das filhas que demonstram apego pela maternidade ao tratarem suas bonecas com o maior carinho.

Defender a heterossexualidade é defender a própria reputação. É protegida como um patrimônio. Se violada uma regra na criação, está perdida. Resta saber onde encaixam a perfeição, a força da natureza e a toda-poderosa proteção divina que a preservam se temem vê-la derreter até quando o filhinho pede uma action figure da Mulher-Maravilha.

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Achando ruim ou bom, vai ter viado

Nem precisa ter muito viado na Globo para incomodar. E nem tem. Compare o número de personagens héteros com o dos homos e veja. Mas basta um. Só a visão de um único de nós que dê sinais de ser o que é já incomoda. Já atrai olhares de ladinho, ataques virulentos. Basta um para que a raiva desperte.

Quem nunca ouviu a expressão “Aqui tá cheio de viado” em meio a uma multidão, quando no máximo tem meia dúzia que foi identificada? Escapou da formatação macho heterozão, seja por uma rebolada ali, uma desmunhecada aqui, um sapato de cor desautorizada, levantam-se as suspeitas e abre-se a rodinha de discussões. É viado, não é, é, não é… É. Vem logo o encaixe: “Esse mundo tá cheio de viado, antes não era assim. Tá demais”.

Sempre houve muito viado. Só não era declarado. Antes a gente tinha medo de segurar a mão do namorado em público. Antes era inconcebível deitar a cabeça no ombro do outro fora dos guetos. Beijar nem pensar. Usávamos cadeados necessários para mantermos a integridade física. Se hoje os ataques persistem, décadas atrás, eram certos e massivamente aprovados.

Viado bom era viado apagado. O que se envergonhava de si e se calava sobre si. Ou o caricato. O que subia ao palco para o desempenho cômico e plumoso. E se fosse um hétero no papel, melhor ainda. Era um herói que abdicava um pouco de sua macheza para botar a bicha no lugar dela. O de bobo da corte.

Não que a discriminação seja culpa dos gays femininos e bem-humorados. Foram instrumentalizados. Roteiristas e diretores nem ligavam se eles eram mais que humor, com sentimentos, angústias, alegrias singelas, qualquer outra expressão humana além do espalhafato. Foram (e são) espremidos, resumidos e usados como molde do ridículo, aprisionados e vendidos na embalagem do anti-homem.

Quanto mais o cara se afasta do rótulo macho alfa, mais risível e agressivo era o tratamento. Assusta e força esconderijos. Vigiávamos munhecas, quadris, voz e expressões. Os nossos, dos amigos e dos namorados. Nada podia lembrar o viado pintoso para não atrair atenção, ojeriza e porrada.

A repressão camuflou aparências, mas não nossos afetos e relações. Continuávamos paquerando, beijando, nos pegando nas boates, nas vielas escuras, transando, namorando, montando casa e dividindo cama. Continuávamos apanhando, sendo expulsos pelos pais, taxados de vergonha da família.

A mídia não se tornou a maravilha das inclusões. Mas mudou. Teve até um rapaz transexual gay na novela das 21h. Teve beijo lésbico em Malhação. Teve transa de dois caras com direito a nudez no horário das 23h. Não é que agora tem muito viado. É que tem mais visibilidade. Pelo simples fato de que lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros existem.

A vida é e sempre foi cheia de viados, mais do que pensa a vã filosofia. Há, inclusive, o enrustido. Que ainda carrega medo e não se revela. Que pratica auto-opressão em nome da reputação. Pode ser teu irmão, teu pai, teu avô. O atendente da padaria, o mecânico a quem você confia o carro ou dentista para quem você abre a boca. Pode ser teu melhor amigo, com quem você conversou várias vezes sobre a rodada do Brasileirão ou daquela balada top com várias gatas. Pode ser teu namorado, teu marido de 25 anos de casamento, teu filho para quem você comprou carrinho e fantasia do Superman.

Quando o mundo era o de antes, achava-se que viado era só longe, aquele de quem se ouvia falar e nem se temia que um dia entrasse em casa. Viado em família de bem e cristã era impossível. Todas blindadas do pecado. No entanto, é nelas que nasceram e nascem.

Hoje, os gays estão perto. O filho hétero tem amigo gay. A filha hétero usa filtro de arco-íris para apoiar a causa. A novela tem galã gay. Pabllo Vittar tem milhares de fãs héteros, queira ou não queira o tribunal facebookiano que a julga.

Têm-se cada vez menos ocultação, menos gay obedecendo às antigas regras ditadas para poder existir. É o que dá raiva em quem não quer saber de viado. Até nos que pagam de bonzinhos, que misturam cordialidade e fingimento, com “Não tenho nada contra gays”, “Gosto deles”, mas sem capacidade para disfarçar o cinismo já embutido no discurso. Acostumaram-se com o privilégio da heterossexualidade tratada como normal, como única sexualidade aprovada, como protagonista absoluta da vida. Não mais. Aí, sentem-se oprimidos, perdidos e revoltados com a balança se igualando.

Vai ter viado, vai ter travesti, vai ter lésbica, vai ter bissexual, vai ter quem dá pinta, vai ter quem é mais discreto, o festivo, o caseiro, o da pegação, o do matrimônio, o unicórnio… vai ter na novela, no seriado, na Globo, na Netflix, na música, no cinema, no shopping, na casa da frente, advogando, medicando, maquiando, comentando, gerando opinião, passeando de mãos dadas, trocando alianças. Reclame ou aprove, vai ter.

 

*Miguel Rios é jornalista, recifense, militante LGBT e filho de Oxalá.

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O vitimismo assustado de Adãos e Evas

A heterossexualidade cisgênera deveria vir embalada em plástico bolha. O temor que ela se quebre e seja descartada é imenso. Juram que é a vontade da natureza, a predestinação imposta aos humanos pelo divino, que os cromossomos XX e XY são únicos, incontestáveis e determinantes. Mas juram que se uma drag queen estrelar um comercial de refrigerante a influência social será devastadora, no dia seguinte milhares de meninos começarão a se maquiar e ensaiar uma coreografia bate-cabelo para a festa de encerramento do ano letivo na escola.

Assisti a um vídeo onde uma pessoa se diz sem gênero. Triz, rapper paulista. Ou seja, não se identifica nem como homem, nem como mulher. Sem qualquer vontade de seguir as regras ditadas pelo feminino nem pelo masculino. Triz não se vê lá nem cá. Usa roupas neutras, cabelo neutro. Aparência neutra.

Estranho? Nessa esteira de moldes regulados onde fomos encaixados, onde desde criança seguimos os padrões e nos acostumamos à sua “normalidade”, sim, de início, achamos estranho. Nós coubemos. Ela não. Várias pessoas não. Por que odiá-las? Por que maltratá-las? Que medo é esse, Adãos e Evas?

A quem elas ameaçam? A quem ferem? Por que ferem? Pela lógica conservadora do XX e XY invencíveis, tais pessoas deveriam, no máximo, ser ignoradas. Afinal, em nada prejudicariam o andar da carruagem hétero cis.

Mas os comentários que li eram moedores de carne. A necessidade de agredir alguém por este alguém assumir-se como de uma sexualidade diferente é a lua cheia para o lobisomem. Transtorna. Tratam como um crime com sentença de apedrejamento.

Como se a pessoa fosse uma ditadora interplanetária com o poder mágico-físico-quântico-químico-telepático de conquistar a Terra, tornar sete bilhões de habitantes em seres iguais a ela. Que precisasse de reação imediata para ser calada, acorrentada, escondida, atirada na masmorra. Combatida pelos Vingadores para ser vencida, de tão poderosa influência que tem.

Cadê a certeza de que a natureza macho e fêmea é imbatível? Acaba só porque alguém com pênis diz que curte saia e maquiagem e por alguém com vagina querer barba e usar sapatênis?

Calma, Adãos e Evas. Não acaba. Héteros cisgêneros existem. Fazem parte da natureza. Só que grande parte não entendeu que o mundo não lhes é exclusivo. Não entendeu que vitimismo é justamente ser a hegemonia e se considerar ameaçado pela minoria. Minoria que nada mais pede que existir como quer existir, como sente que deve existir.

Vitimista não é quem, simplesmente, relata quem é, pede respeito e desafia a ordem vigente, sabendo que será insultado, talvez até assassinado. O nome é coragem. Vitimista é quem se incomoda e se enraivece por alguém traçar um relato de si e mostrar-se fora do molde.

Qual o motivo de atribuírem a tal pessoa uma infecção de alto contágio? Qual poder atribuem a ela? Que fúria contrária é essa? Por que ela surge? Que medo é esse?

Adãos e Evas exalam uma ira típica do fanatismo religioso. Como se um soldado do Estado Islâmico estivesse preso lá no porão dos sentimentos e, toda vez que ouvisse “Tem LGBT falando”, arrombasse a porta já com a corda na mão para amarrar e jogar do alto do prédio.

Bastou uma mulher trans interpretar Cristo na peça Jesus, Rainha do Céu para que a hidrofobia se espalhasse. Se Jesus não estiver no modelo imagem de altar, de presépio, é guerra declarada. A peça traz a reflexão de como Jesus teria de ser hoje para ser tão revolucionário como foi. Ele o seria se viesse com o mesmo discurso de dois mil anos atrás contra a hipocrisia dos religiosos, perdoando pecados, cuidando dos pobres, repartindo o pão? Não deixaria de ser. Mas seria bem mais se questionasse também as sexualidades emolduradas.

Para testar os cristãos, seu amor e acolhimento, um corpo e uma mente trans seriam bem adequados. Jesus teria que chocar, mexer com as convicções, com os preconceitos, despertar ódio e a sensação de perigo como o fez pela Judeia. Só assim saberia se realmente a mensagem de amar ao próximo e não jogar pedras já seria bem recebida e por quem seria. Saberia se sofreria de novo ataques, ojeriza, espancamentos e morte.

Jesus saberia quem são os soberbos que usam os outros para detonar e se autoendeusar. Os fiscais da cama e do guarda-roupa alheios, que chamam de terapia a volta para o armário da cura gay, e de ideologia de gênero a discussão de sexualidades e opressões na escola. Se o gay vira hétero é cura, se o hétero vira gay é doutrinação, dizem Adãos e Evas (quando nem é uma coisa nem outra. É entrada no armário e saída do armário, respectivamente).

Jesus teria seu martírio reeditado pelos inseguros e assustados vitimistas Adãos e Evas, que tremem e babam ao se deparar com Pabllo Vittar, Triz, Liniker ou anônimas parecidas e insubordinadas. Adãos e Evas que sabem que o antigo poder de ofensa não é mais o mesmo, não tem mais tanta aceitação, nem está mais dentro da normalidade.

Daí, se avexam em incinerar as bruxas, nem que seja em comentários de internet. Talvez, como disse Judith Butler, as queimem apavorados pelo poder que elas têm.

 

*Miguel Rios é jornalista, recifense, militante LGBT e filho de Oxalá.

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Já cascavilhou sua LGBTfobia hoje?

*Por Miguel Rios

LGBTfobia não sai do seu corpo com laxante. Não se prova inocência usando amizades como álibi. Ela persiste em pequenas doses e transpira aqui e ali em pequenas frases e atitudes.

Quantas vezes você já desistiu de uma roupa por achar que ela era de viado? Quantas vezes consertou sua munheca por achar que ela girava demais? Quantas vezes engrossou a voz para ser mais másculo? Quantas vezes caminhou com passos mais duros para demonstrar macheza?

As perguntas acima valem inclusive para caras gays e bis. Valem para caras trans. As mulheres adaptem para atitudes tidas como femininas.

E aí? Se pegaram em lembranças? Se flagraram em fatos recentes?

Esse que escreve aqui tem inúmeros flashes de cenas de sua vida onde praticou coisas do tipo. Já me policiei incontáveis vezes. Acreditava que me corrigia, que me fazia melhor, um homem de verdade. Meu ideal era ser sem trejeitos, sem pintas, sem rebolados, sem parecer gay. Na verdade, me adequava.

Era um rolo compressor heteronormativo chamado sociedade que me forçava a caber em um molde. Daqueles milimetricamente bem desenhados e precisos. Nenhum fio de cabelo fora do projeto homem como homem deve ser.
Eu acreditava. Era ordem e regra de todos os lados. O projeto que me foi vendido como o único possível, o aceitável, o não atacável. Os outros eram execráveis, dignos de perseguição, de chacota, de serem culpados pelas violências sofridas.

Já me justifiquei tanto sofrimentos alheios com “quem manda ser tão viado?”. Tudo o que é de viado é reprovável. Aprendemos ou não que é assim? Saiba que é homofobia. Por que o que é de viado é indigno? Por que desonra? Porque disseram que é assim.

Um passado que me envergonha , mas não quero apagar. Preciso dele, do antigo eu, para me demolir, me catar e me jogar no lixo, me rever, me reconstruir melhor, mas sempre disposto a meter a marreta de novo.

Aplicar em si a menêutica socrática é necessário e saudável. Questionar-se, questionar-se e questionar-se sem medo de exaustão. Questionar-se para não cair na armadilha comum de resolver tudo no raso e se inocentar. “Ah! Mas tudo é preconceito! Tudo é LGBTfobia!”

É. Porque sempre foi. Porque não se livra de uma opressão estrutural apenas acenando e sorrindo para a vizinha lésbica e para a cabeleireira trans.

Sempre se fez piada e humilhação pública com gays, lésbicas, bis e trans porque precisavam ridicularizar para alçar a heterossexualidade cisgênera ao posto de normalidade e obra divina. Por muito tempo foi socialmente aceito e incentivado. Execramos e enxovalhamos o que é o errado, né isso? O resultado: pais e mães que não se cansavam de repetir que preferiam ter filhos mortos a vê-los na viadagem ou na sapatagem, bullying feroz na escola, dificuldade em conseguir emprego caso a sexualidade não estivesse em um armário, suicídios, afetos ocultos, traumas e infelicidade.

Daí LGBTfobia é infecção aguda que não se trata com mero antibiótico. É mal crônico. Precisa de tratamento lento e observação contínua.

Saiba que haverá recaídas. Saiba que haverá erros. Que sua fala não será pura. Saiba que você pode, e até deve, corrigir equívocos alheios. Mas é bom saber de quem vêm e porque vêm.

Há quem erre por ignorância, quem erre por estar no processo de revisão e aprendizagem. Há quem erre por acreditar estar imune e limpinho justamente por “ter amigos gays”. Esses, dá para mudar e melhorar.

Há quem erre por total escrotice, porque considera o erro acerto. Nem todo mundo é Bolsonaro ou Malafaia, mas tem quem esteja na mesma prateleira. Desses, manter distância.

Diferenciar é preciso. E dá trabalho. E, às vezes, cansa. Mas lembre-se que o mundo não vai mudar de uma vez, não vai cair do meteoro da justiça social e transformar as mentalidades com seu campo magnético colorido de maravilhosidade. Lembre-se de você. De seus arrependimentos, de seus pensamentos ainda infectados. De como é difícil extirpar por completo. Eu lembro de mim.

 

*Miguel Rios é jornalista, recifense, militante LGBT e filho de Oxalá.

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