Marcin Wasilewski, zagueiro (e lateral direito) polonês, tranferiu-se para o Anderlecht em 2007. Com o tempo foi conquistando a torcida com seu estilo de jogo durão e raçudo, muitas vezes sendo chamado de desleal pelos adversários. Além do trabalho defensivo e da liderança que exercia em campo, Wasyl também começou a marcar gols, atingindo 8 tentos em sua segunda temporada na Bélgica e tornando-se o 3º artilheiro da equipe no ano.
Veja compilação de lances desleais do zagueiro
Tudo caminhava para mais um caso de um Xerifão polêmico virando ídolo de uma torcida, até 30 de Agosto de 2009, quando numa partida contra o Standard de Liège, Wasyl deu um carrinho na bola e Axel Witsel chegou atrasado, por cima, e acertou a tíbia do adversário, quebrando-a ao meio (junto com a fíbula). A cena é uma das mais angustiantes da historia do futebol (pelo menos aquela presente no youtube) e causou furor no futebol belga. Witsel foi suspenso por 3 meses (mas depois teve a pena reduzida para 8 jogos) e recebeu ameaças de morte de torcedores do Anderlecht e da Polônia, tendo a casa protegida pela polícia durante alguns dias.
Aqui, o fatídico lance, clique apenas se tiver estômago
A partir de então, Wasyl se tornou um ícone para a torcida e sua improvável recuperação o ponto central da relação entre eles. O clube decidiu extender o contrato do jogador, que acabaria durante seu período de recuperação, por mais 3 anos e a torcida passou a demonstrar seu apoio cantando uma versão adaptada de Aquarela do Brasil (trocando “Brasil” por “Wasyl”) ao 27º minuto de toda partida em casa (em referência à camisa do jogador).
Após a lesão Wasyl volta a campo ao som de Aquarela do Brasil.
Wasyl retornou, alternou momentos importantes como líder da equipe e outros de desempenho não tão satisfatório, mas sempre manteve-se como uma referência para sua torcida. Com o fim do contrato e o futebol em declínio a diretoria permitiu que ele continuasse a treinar no Anderlecht para encontrar um novo clube e pediu oficialmente para a torcida continuar a cantar seu nome todo 27º minuto de seus jogos, mesmo depois de sua transferência para o Leicester City.
Veja vídeo do canal oficial do Anderlecht homenageando Wasyl
Alguns torcedores, no entanto, acharam que apenas manter a tradição da “Aquarela de Wasyl” era pouco. Incentivados pelos foruns de discussão do Anderlecht onde se lia que a equipe não era mais a mesma sem o polonês e que era dele que se precisava – além de todo tipo de demonstração da mais verdadeira admiração (as vezes nem só de torcedores do time, mas também da Polônia) – um grupo decidiu sair de Bruxelas e ir até a Leicester homenagear seu ídolo na 2ª divisão inglesa. Na saída de campo, cantando a música referência, jogador e torcedores quebraram qualquer protocolo e se juntaram, num abraço que sintetiza toda a relação construída ao longo dos 6 anos em que estiveram juntos e, por que não?, a essência do futebol.
Torcedores do Anderlecht viajam até a Inglaterra para abraçar Wasyl
Hoje Wasyl joga no time que ocupa a última posição da Premier League, mas teve a honra de viver uma história especial com a torcida do Anderlecht. Não foi por escolha, foi o desenrolar de sua carreira através de consequências imprevisíveis de fatos inesperados, mas o fato é que ele saiu de campo pelo Leicester City sendo carregado por torcedores do Anderlecht que viajaram mais de 500kms só para fazê-lo. Este momento, e tudo que os envolvidos sentiram, foi mágico, autêntico, inacessível para a grande maioria dos outros jogadores. Viva o futebol e aqueles que se permitem vivê-lo! E que os jogadores que na possibilidade de viver algo assim preferem trocar de time por um salário maior ganhem muito dinheiro e contem para seus netos as histórias de seus ex-companheiros.