O Central Cine Brasil termina o ano de forma especial: um programa um pouco mais longo para apresentarmos nossas listas de melhores filmes brasileiros lançados em 2019 e conversamos sobre os destaques da temporada de cinema. Tem também um editorial do programa para fechar os trabalhos depois de meses marcados por ótimos filmes e pela defesa do audiovisual contra os ataques e o desmonte do governo.
Os melhores de 2019 para o Central Cine Brasil:
- Bruno Graziano: A VIDA INVISÍVEL / 2. BACURAU / 3. AZOUGUE NAZARÉ / 4. ESTOUN ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR / 5. NO CORAÇÃO DO MUNDO / 6. LOS SILENCIOS / 7. CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS / 8. GRETA / 9. DOMINGO / 10. TEMPORADA
- Lucas Borges: ficção – 1.VIDA INVISÍVEL / 2.BACARAU / 3.AZOUGUE NAZARÉ / 4.BIXA TRAVESTY / 5.NO CORAÇÃO DO MUNDO / 6.SÓCRATES / 7.DIAS VAZIOS / 8.CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS / 9.INFERNINHO / 10.A SOMBRA DO PAI / documentários – 1.FEVEREIROS / 2.ELEGIA DE UM CRIME / 3.ESTOU ME GUARDANDO PRA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR / 4.MEU AMIGO FELA / 5.DIZ A ELA QUE ME VIU CHORAR
- Murilo Costa: A VIDA INVISÍVEL / 2. BACURAU / 3. DESLEMBRO / 4. TEMPORADA / 5. ESTOU E GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVA CHEGAR / 6. GRETA / 7. NO CORAÇÃO DO MUNDO / 8. ELEGIA DE UM CRIME / 9. AZOUGUE NAZARÉ / 10. O CLUBE DOS CANIBAIS
- Paulo Junior: 1. BACURAU / 2. A VIDA INVISÍVEL / 3. AZOUGUE NAZARÉ / 4. NO CORAÇÃO DO MUNDO / 5. ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR / 6. INFERNINHO / 7. ELEGIA DE UM CRIME / 8. A SOMBRA DO PAI / 9. LOS SILENCIOS / 10. GRETA / 11. BIXA TRAVESTY / 12. ESPERO TUA (RE)VOLTA / 13. TEMPORADA / 14. DESLEMBRO / 15. MEU AMIGO FELA / 16. SÓCRATES / 17. CLUBE DOS CANIBAIS / 18. O BARATO DE IACANGA / 19. MORTO NÃO FALA
- Pedro Botton: 1. Bacurau / 2. Democracia em Vertigem / 3. A Vida Invisível / 4. Fevereiros / 5. Elegia de um Crime / 6. No Coração do Mundo / 7. Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar / 8. A Sombra do Pai / 9. Diários de Classe / 10. Dias Vazios
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EDITORIAL
Terminamos a quarta temporada do Central Cine Brasil com duas constatações óbvias.
O cinema brasileiro continua emocionando por sua diversidade, e os mais de cem e tão variados lançamentos, que contam nossas histórias com tantas formas e olhares, tornam impossível resumir a um ou outro filme a produção nacional de 2019.
A outra, pelos piores motivos possíveis, diz respeito à nossa intenção inicial ao produzir um programa que trata dos filmes realizados por brasileiras e brasileiros do nosso tempo. Para nossa geração, nunca havia sido tão importante e necessário o fortalecimento dos espaços para se falar de nossa arte e cultura.
Quando começamos o Central Cine, em 2016, o Brasil consolidava sua retomada no número de salas de cinema, passando a casa das 3 mil telonas. Os lançamentos nacionais no circuito, que na virada para essa década beiravam os 100, passaram a mirar os 200. A Spcine acabava de ser fundada na cidade em que vivemos. Em algumas quintas-feiras, chegamos a citar dez novidades brasileiras chegando às salas, de rua e de shopping, gratuitas e caríssimas, em cidades grandes e pequenas.
Acompanhamos a importância das nossas turmas pegando o avião para serem reverenciadas em festivais internacionais. Vimos diretoras, diretores, atrizes e atores em destaque em produções estrangeiras. Estamos em Cannes, no Netflix, no horário nobre das TVs por assinatura, nas barracas de DVD pirata, nas séries depois da novela, nas listas dos melhores do ano em toda e qualquer revista gringa. A preguiçosa tese da falta de qualidade do nosso cinema perdeu sentido.
E vimos de tudo. Falamos no Central Cine de filmes de todas as regiões brasileiras, do cânone do século XX que segue em atividade, passando pelos pilares da retomada, até chegar na jovem geração saída dos novíssimos cursos das Universidades Federais. Falamos das jornadas milionárias que viraram sucesso da televisão aberta até longas cujo público no cinema caberia no nosso pequeno estúdio. Falamos de vencedores do Oscar com o mesmo interesse que contamos os destaques de cada mostra de cinema espalhada pelo país.
E às vezes, durante esse ano, a gente queria era pirar nos filmes que tanto nos divertem, ensinam e provocam a cada semana. Mas precisamos defender a importância de uma Agência de Cinema não só existir, mas exibir um filme para seus funcionários e até colar pôsteres na parede. Tivemos de comprar briga por Fernanda Montenegro, atacada por um qualquer da secretaria de Cultura enquanto lança três filmes para celebrar seus 90 anos, e por Bruna Surfistinha, no topo de uma ignorante lista de produções malditas.
Precisamos falar da possibilidade de não haver Mostra de Cinema de São Paulo, pedir doações para o Anima Mundi e o Festival do Rio. Reunimos ânimo para cobrar que o Governo Federal cumpra com o custeio de passagens para participações em eventos fora do país, conforme acordado. Contextualizamos cada passo da fuga das estatais, com a Caixa deixando o Cine Belas Artes, a Petrobras abandonando a Sessão Vitrine e o Cinearte. Dedicamos parte de nossas conversas para entender que outras formas de se fazer cinema podem ser possíveis num desmonte irresponsável e mesquinho dos meios de financiamento – e não só futuros, mas aqueles em andamento, fechando portas de produtoras e deixando não só trabalhos na gaveta, como profissionais em casa.
E é nesse contraste, entre o clamor por Bacurau e a agonia pelas obscuras dificuldades impostas a Marighella, entre o tocante A Vida Invisível e a censura do filme sobre Chico Buarque no Uruguai ou de uma fala de um ator em Brasília, que levamos o nosso programa. Atravessados por filmes a cada semana ao mesmo tempo que respirando fundo para explicar, por quantas vezes for necessário, a importância de um país de cinema.
O Central Cine Brasil é um podcast movido pela ambição de ver um cinema brasileiro engajado, popular e democrático, na produção e no acesso do público. O nosso sonho é que as pessoas à nossa volta se reencontrem com os filmes que contam as nossas histórias. Sem nenhum tipo de nacionalismo barato, mas na missão de, diante do desprezo institucionalizado, reforçar o espaço do filme nas nossas vidas e na formação de nossa identidade e memória.
Em 2020 tem mais.