O Fractal Futebolístico

Fractais são formas construídas por outras formas similares a elas, mas em menor escala. Pode parecer complicado, mas não passa de uma couve-flor: pequenos raminhos formam ramos médios, que formam caules, que formam a couve-flor. Cada um desses elementos é idêntico ou muito parecido com o vegetal inteiro, de forma que se tirarmos uma foto sem nenhuma referência talvez não consigamos dizer qual foi o zoom utilizado.

O conceito de fractal nasceu na geometria, mas há muito extrapolou essa fronteira e passou a ser amplamente utilizado. Em campos que estudam os padrões formados pela natureza descoubriu-se uma infinidadede fractais: folhas, conchas, flocos de neve, dunas, montanhas, bacias hidrográficas, listras em tigres, nosso sistema circulatório, nosso pulmão e nossos batimentos cardíacos são apenas alguns dos milhares de exemplos. Na computação o conceito também é amplamente utilizado, por ser capaz de gerar figuras altamente complexas com pouquíssima informação (a forma e o modo de repetição apenas), o que alegra quem acredita que o universo (que também é visto como um fractal) é uma grande simulação computacional, um grande The Sims.

No entanto, para mim, as mais interessantes são as interpretações humanas e sociais do fractal. Não apenas nossas redes (rodoviária, aérea, a internet, etc), algumas de nossas criações artísticas, as variações no mercado financeiro ou nossa psíque podem ser vistas como fractais: a sociedade pode ser interpretada como um. Nesse fractal social as características e dinâmicas entre os indivíduos repetiriam-se entre os pequenos grupos (família, amigos, trabalho), que repetiriam-se em grupos maiores até formar a sociedade como um todo. Claro que quando chegamos nesse nível não há comprovação científica, trata-se de uma visão de mundo, de um conceito. Mas um conceito que me agrada por seu otimismo: ao mudarmos o jeito como somos e nos relacionamos com os outros podemos mudar a sociedade.

Pois bem, depois de 3 longos parágrafos chego ao ponto que interessa: o futebol também tem sua lógica fractal. Mais ou menos na linha de Cleber Machado, o futebol, o resultado e a história de um time numa escala grande estão presentes e se expressam nas formas de menor escala. Por exemplo, Rogerio Ceni chega aos 41 anos sem a explosão muscular e a saúde de outras épocas, mas em sua última temporada superou as desconfianças geradas em 2013 e agora tenta dar um último suspiro e jogar mais 20 dias como o jovem que não é para encerrar sua carreira com uma taça. Curiosamente o time do São Paulo encontra-se em situação similar à do seu capitão: correu muito para chegar mais longe do que se esperava mas agora encontra-se exausto e tendo que tirar energias da onde não há e tentar um último gás para fechar o ano com um título. Já no Corinthians se pensarmos nos inúmeros empates titeanos do ano passado veremos que eles formaram um grande 0x0 como temporada.

Outro exemplo é o Galo, que chegou numa situação surreal em sua Libertadores 2013, na qual esteve igualmente próximo de ser um timaço que supera todas as dificuldades ou uma grande enganação, sagrando-se no último minuto. Tal descrição serve tanto para os confrontos com Tijuana, Newell’s e Olimpia como para o campeonato em si: ou seja, a repetição de um padrão formou algo similar numa escala maior.

Da mesma maneira, muitas vezes o desempenho em um lance simboliza o resultado de um jogo, tabus (que nada mais são do que resultados repetidos ao longo do tempo) formam a história de um time e assim em diante. Da próxima vez em que assistir uma partida do seu time saiba: você pode estar vendo toda a temporada em 90 minutos.

 

Referências:

http://en.wikipedia.org/wiki/Fractal

http://en.wikipedia.org/wiki/Fractal_cosmology

http://socionomics.net/archive/col_inf.aspx

http://onefootwalking.wordpress.com/2011/01/29/fractals-and-human-behavior/

http://www.fractalwisdom.com/science-of-chaos/benoit-b-mandelbrot/

http://www.zerohedge.com/news/guest-post-social-fractals-and-corruption-america

http://www.triplepundit.com/2011/01/like-life-sustainable-development-fractal/

 

Posts Relacionados

Começa a partida!

Por André Vidiz

Existem infinitas maneiras de se analisar, explicar ou contar o que acontec em 90 minutos dentro de um campo de futebol. Algumas dessas maneiras são concorrentes, e cada amante do futebol vê uma como a que realmente conta, enquanto as outras até podem existir, mas ficam em segundo plano.

Os mais objetivos analisam as estatísticas de cada jogador e dos times para detectar virtudes e defeitos destes, e depois da partida apontam por onde se deu a vitória. Acreditem, os bons conseguem expressar a beleza do jogo através de números e gráficos. É objetivo, verificável, está ali.

Próximos a estes estão os que percebem os padrões de posicionamento e movimentação dos jogadores e assim desenham certa ordem no caos que toma lugar entre o apito inicial e o final, explicando o que aconteceu no jogo com a ajuda de campinhos e flagrantes táticos. Faz muito sentido, futebol é um esporte coletivo, é quase burrice discordar.

Há aqueles que analisam o desempenho técnico dos jogadores, e quem vai negar que, apesar de toda tática, se o atacante não tivesse acertado aquele chute sem ângulo – que terminou no ângulo – o resultado seria completamente diferente? De que adiantaria subir as linhas de marcação se o volante adversário tivesse acertado um passe e permitido que os meias e atacantes aproveitassem o espaço deixado? E se o zagueiro tivesse chegado meio segundo antes na bola, o gol de jogada trabalhada sairia?

Outros escolhem as lentes da psicologia e parece indiscutível que cada time entra em campo com determinado ânimo, que termina sendo refletido em sua postura e invariavelmente no resultado, mesmo que de maneiras imprevistas à priori. O time que precisa da vitória pode superar todas suas desvantagens técnicas e táticas e vencer o jogo. Já o que entrou confiante pode sofrer um revés inesperado e não saber como agir, o time desesperado pode começar bem e deixar a vitória escapar de bobeira, e assim vai.

Quem vai no estádio advoga que o resultado está ligado (ou pelo menos pode ser contado pela ótica) à conexão entre time e torcida. Quem está lá sabe que isso é real e influencia o jogo. Os mais românticos podem admirar a beleza e ritmo de um time que joga bem, esperando que isso garanta uma vitória.

Podemos adotar uma visão histórica e mostrar o estigma de cada clube, do confronto entre eles e o que aquelas camisas carregam ao entrarem em campo juntas. Um tabu, uma desavença no passado, uma freguesia, um jogador que trocou de lado, tudo isso parece criar uma lógica universal que rege a partida, apenas usando técnica, tática e psicologia como ferramentas para o desfecho inescapável.

Muitas vezes a explicação pode se dar fora do futebol. O documentário Two Escobars mostra como a magia, resultados e estilo de jogo que encantaram o mundo da Colômbia de 1993-1994 acompanharam o momento da sociedade colombiana, bem como a derrocada na Copa e posterior assassinato de Andres Escobar.

E, finalmente, podemos lançar mão de explicações completamente metafísicas (o que seria do futebol sem a metafísica?  E da metafísica sem o futebol?) que muitas vezes estão muito mais certas que todas as outras juntas. Quem acompanha sempre um time sabe que quando é pra acontecer, acontece.

Assim, todo dia é publicado muito conteúdo interessante em cada uma dessas linhas, ou combinando várias delas, sobre partidas específicas e sobre tudo que cerca o futebol. Este conteúdo está disponível a qualquer um com acesso à internet e geralmente é grátis. Mas, mesmo assim, o “João Sorrisão”, a festa dada pelo Neymar ou uma polêmica vazia inventada numa redação qualquer terminam dominando o noticiário esportivo. É para mostrar para as pessoas que esse conteúdo já existe e é acessível, ao mesmo tempo em que expomos nossa visão sobre o futebol, que criamos o Sem Firulas, na esperança de que a qualidade vença o chulo.

Neste espaço traremos alguns desses conteúdos para vocês, sempre propondo alguma discussão ou reflexão, apresentaremos nossas ideias e dialogaremos com os craques que fazem parte do blog. Se Deus quiser o time vai continuar unido e com muita garra e dedicação vamos buscar esses 3 pontos. Vamos pro jogo!

_____________________

O Sem Firulas é uma página no Facebook voltada inteiramente ao futebol, com a abordagem descrita acima. Para visitar e curtir a dita cuja, clique aqui.

A coluna do Sem Firulas, assinada por André Vidiz e Guilherme Dorf, é publicada semanalmente no blog da Central 3.

Posts Relacionados