Por favor, não se jogue
Entre ser imoral e moralista costumo ficar com a primeira opção. No futebol, ambiente no qual (ainda) temos liberdade para deixar nosso lado animal tomar conta, mais ainda. Não sou contra usar falta como recurso, chegar junto no adversário e não achei Suarez vilão nem herói no jogo contra Gana (acho que ele não tinha outra opção). Mas sou contra jogador cai-cai, mesmo que no meu time e dando resultado.
Aqueles que aceitam o cai-cai (e eu não repreendo ninguém por isso) têm o argumento de que o jogador está apenas fazendo aquilo que é melhor para o seu time e que deixar de fazê-lo seria desrespeitoso com seu torcedor. Concordo, também, que se jogar não difere muito de outras práticas bem aceitas e de que, dada a presença do juiz, não é desonestidade cavar faltas sob o risco de tomar um amarelo por simulação. Tudo isso é fato, mas eu gostaria de dar um passo atrás e refletir um pouco sobre o sentido do futebol, gostaria de questionar por que gostamos de ver 11 homens com camisas de determinadas cores se matando para passar uma bola num retângulo mais vezes do que os fdp com camisas de outra cor.
Claro que ganhar é o objetivo, mas não é esse o sentido de se torcer para um time. O sentido, para mim, é a sensação de unicidade que se tem ao acompanhar o jogo do seu clube. É saber que você e aqueles 11 jogadores são uma coisa só, é deixar de lado sua individualidade e fazer parte de algo maior. É marcar um gol, defender uma bola, se sentir um merda por uma derrota ou o cara mais foda do mundo com uma vitória, mesmo que objetivamente a sua contribuição para que a bola tenha entrado mais no retângulo adversário do que no seu seja desprezível e que o resultado não diga absolutamente nada sobre quem você é ou qual o seu caráter. De certo modo, o sentido está no fato de que torcer para determinado time se torna parte importante de quem você é.
E, assim sendo, eu posso ter que meter a mão na bola para evitar uma eliminação aos 48 do segundo tempo, afinal somos todos humanos e podemos passar por situações de inferioridade, mas no dia que for pra ganhar, eu quero ganhar dominando (ou tentando dominar) meu adversário, eu quero (tentar) ser amplamente superior a ele, eu quero que ele saia de campo não sabendo o que aconteceu ou o que poderia ter feito diferente, eu quero me sentir FODA. E, sinceramente, se a estratégia do meu time é ficar se jogando para conseguir faltinhas perto da área, cavar expulsões não merecidas e convencer o juiz a me dar a vitória, eu não vou me sentir melhor do que o outro, apenas mais demagogo. É por isso que peço aos jogadores do meu time: por favor, não se joguem.