*Por Anderson Santos
Depois de anos com o lenga-lenga de ameaçar sair da Liga do Nordeste caso não tivesse seu mimimi elitista atendido, finalmente Náutico e Sport anunciaram o rompimento na última sexta-feira. Se os boatos geraram uma célebre frase no último Baião de Dois nesta Central 3, a confirmação gerou uma revolta de nível bélico no conselho editorial do programa, com uma decisão: guerra a Pernambuco!
A nova fórmula apresentada para 2018 tentou dirimir um dos problemas do torneio nos últimos anos. No formato de 20 times, sempre aparecia um ou mais casos de sacos de pancada (vide Uniclinic na edição deste ano), assim o número foi diminuído para 16, considerando ainda que a partir de 2019, para garantir que times “grandes” não ficassem de fora, as vagas fixas serão definidas pelo ranking da CBF, ponto este que discordamos, mas daria maior atratividade a cada disputa em campo – este ano o Ceará, que foi eliminado nas quartas de final do Cearense do ano passado e, logo, não poderia participar da CNE, resolveu aderir à Primeira Liga, mas você sabe que esse torneio está sendo disputado?
Os três de Pernambuco foram contrários, devido à perda de uma vaga direta (mantém as outras duas para campeão e vice), mas ficaram isolados e perderam dentro da Liga. E o que se faz num país como o Brasil quando se perde algo? Dá-se um golpe!
Os clubes reclamam de uma maior cota, pois ganham mais no fixo dos direitos de TV do Pernambucano que ao participar da primeira fase do torneio nordestino – ainda que possam ganhar bem mais se avançarem. Na cabeça bairrista pernambucana, seus times são, junto aos da Bahia, os principais Estados do Nordeste e seria por eles que existe o torneio, logo deveriam ter mais vagas e mais dinheiro que os outros, numa reprodução irritante da espanholização do futebol nordestino, que sumiu da Espanha por decreto legal, mas cresce a olhos vistos no Brasil.
Mais revoltante nisto tudo é que os mesmo times que reclamam de vez em quando da desigualdade nacional nos acordos contratuais da Globo no Brasileiro são os que querem reproduzi-la num torneio criado para destacar os clubes da região– e muito atacado historicamente pela oligarquia do futebol brasileiro, de CBF a Globo e, especialmente, pelas federações estaduais.
Os times pernambucanos entraram na onda de Evandro Carvalho, presidente da federação de seu estado, que vem sendo o grande crítico da Copa do Nordeste nos últimos anos, defendendo o seu quinhão, o Campeonato Pernambucano, que, como todos os Estaduais locais, divide, especialmente nos últimos 3 anos, as datas do primeiro quadrimestre com a CNE.
Vale lembrar que o Sport não quis participar da edição de 2010, após acordo judicial da Liga com a CBF para o retorno do torneio após o corte do único regional de sucesso do país em 2003, de forma unilateral. E não custa lembrar que seu então presidente, Luciano Bivar, fora presidente da Liga no início dos anos 2000, com os pernambucanos fazendo parte da mesma por discordarem da FPF. Quanto ao Náutico, não conseguiu ficar sequer em 3º lugar no Estadual e faz uma das piores campanhas da história dos pontos corridos na Série B do Brasileiro. O Santa Cruz ainda não se pronunciou, depende de decisão do conselho deliberativo, e, por enquanto, enfrentará o Itabaiana-SE no Pré-Nordestão.
Pernambuco tenta levar Bahia e Vitória juntos, mas o primeiro é parceiro do Esporte Interativo na TV fechada e se negou a perdê-lo. O intuito deste grupelho agora é criar uma nova liga com o que consideram ser a elite nordestina, 8 clubes – e uma segunda divisão também de 8 clubes. O típico processo de menino mimado dono da bola que, ao perder o jogo, a pega e leva para casa. Com a diferença primordial que a CNE é um produto excelente também em outros Estados considerados “menores” por eles – vale lembrar que os dois times de Sergipe passaram para as quartas de final deste ano e os públicos dos dois clássicos entre CSA e CRB na primeira fase do torneio.
A saída da Liga não significa necessariamente a do torneio – preferimos até publicar este texto antes da coletiva dos presidentes de Sport e Náutico para não saber a decisão. Mas, já que querem sair, que saiam, mas não voltem nunca mais! Façam um viaduto da arena de São Lourenço da Mata, já que é para ficar na “modernidade”, para Rio de Janeiro e São Paulo! Espera-se que os outros times do Nordeste não só não entrem nessa onda, como tentem fortalecer a CNE. Que Pernambuco pague pela decisão tomada!
*Anderson Santos é professor da Universidade Federal de Alagoas, jornalista e mestre em Ciências da Comunicação.