A corajosa Seleção Arco-Íris

Sabiam que corriam perigo, mas era por necessidade. Os seis integrantes do projeto The Hidden Flag tinham a necessidade de se expressar, de protestar, de gritarem “Presentes!” na Copa do Mundo. A Rússia, LGBTfóbica da raiz às folhas, foi desafiada e enganada. Seis cabeças erguidas acima de camisas de seleções desfilaram por Moscou com a bandeira do arco-íris oculta e exposta em seus corpos. Chama-se coragem.

Cada um com coragem de afrontar, mesmo que com artimanha. Coragem para se prontificar a ir, mesmo consciente de todos os riscos. Coragem desde que viu o convite da Federacion Estatal LGBT, de Madri, pensou que queria ir, repensou se queria ir, decidiu que queria ir. Foi. Pensou se realmente era firmeza ir às ruas, repensou, vestiu a camisa, se encontrou com as parcerias. Foram.

“Você tá maluco? É muito perigoso”, avisou o namorado de Eloi Júnior, o brasileiro no protesto.  Era a preocupação, aquela cola que não deixa o que já de ruim te ocorreu sair do pensamento. Ele garantiu: “O risco não me importa. É um projeto que quero muito participar”.

Eloi tem uma história não muito diferente de tantos homossexuais. Família conservadora, cidade conservadora, meio ambiente conservador a enfrentar e o condenar. Cresceu, como eu, em um Brasil onde a homossexualidade, a bissexualidade, a transexualidade e a interssexualidade nos são apresentadas como as maiores vergonhas para a família, para os amigos, para a própria pessoa. E você se encolhia, se escondia, se culpava, se sentia o erro, a desonra, a pior das condições, a que a sociedade tinha razão em odiar. Era contra a natureza, os desígnios divinos, a família tradicional.

“Já tá errado por ser viado.” Ouviámos direto, deslegitimando qualquer reivindicação, tivesse ou não a ver com homossexualidade. Onde o desencaixado sexual tinha, no máximo, o direito de se calar, se retirar, para não apanhar. Aprendemos a nos encolher para sobreviver.

O clima mudou e meio mundo se conectou, se reconheceu, se deu as mãos, ganhou incentivo, ganhou disposição e coragem para ir às ruas determinado a não se negar mais. A retirar véus. Meio mundo se deu às mãos para o confronto. O Bandeira Escondida (The Hidden Flag) é um exemplo.

Na Rússia, o meio mundo ainda é menos que metade. Dá cadeia exibir afetos e símbolos LGBTs. Os seis ativistas eram a vulnerabilidade caminhante. Foram um misto de Espanha, Holanda, Brasil, México, Argentina e Colômbia com medo e com perseverança, com decisão de lutar, com reafimação da decisão, com respirar fundo, com seguir em frente, com a lucidez emparelhando com a loucura, o que deu em coragem. Deu em desataque de prudência, que ativista tem ao emprestar o próprio corpo a uma causa.

Fizeram fotos, postaram na web, passaram na cara. Causa se defende não apenas com amor e informação. Desaforo dá ânimo e satisfação.

Bastava que alguém desconfiasse e denunciasse. Bastava algum policial reconhecer a ordem das cores. O cassetete descia. Consideram afronta, desrespeito ao país. Odeiam. Agridem.

A violência, na vera, não é por causa dos beijos em público, nem pelas bandeiras levantadas, pelos atos políticos. São só atitudes que causam mais raiva. A violência vem por nossa existência. Antes das paradas, dos carinhos ao ar livre, da autoestima e da não autocriminalização já havia espancamentos e mortes. Odeiam a nós por sermos quem somos, mesmo a quem insiste em um armário que pouco dá segurança.

Os seis sabiam que era arriscado. Poderiam ganhar ou perder. Perder feio. Ganharam. Caminharam torando aço, mas chegaram a um campeonato que lhes será eterno a cada jogo: o de ter coragem de entrar em campo.

 

 

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