Estivemos na Segunda Guerra Mundial

Em 2015, a Europa celebra os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Enquanto que a bandeira vermelha flamejava no Reichtag e os estadunidenses apresentavam o chiclete aos europeus, alguns homens ligados ao Futebol também estiveram presentes do maior conflito armado, em números absolutos, da História. Alguns sobreviveram, já outros….

1 – Antoine Raab

Antoine Raab,  jogador alemão contratado pelo clube francês Stade Rennais, abdicou de participar da mobilização do exército alemão em 1939. A partir da corajosa negativa, uma longa aventura começou para o jogador que, com documentos falsificados, fugiu para a cidade de Nantes onde se escondeu por toda a guerra trabalhando ao lado da Resistência.

2 – Jaap van Praag

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O futuro presidente do Ajax, do grande Johann Cruijff, teve que se esconder durante os 6 anos de ocupação alemã para escapar da persecução antissemita. Com muito mais sorte que Anne Franck, Japp salvou-se, porém nunca mais reencontraria seus pais e irmã, executados em Auschwitz. Vale lembrar que o clube holandês sempre teve forte identidade judaica e Jaap é um exemplo emblemático.

3 – Vassili Boutoussov

Um destino bem estranho. O jovem Vassili, do clube Ounitas, de São Petersburgo, atuava na seleção imperial russa nos Jogos Olímpicos de 1912. Durante a guerra civil, ele lutou ao lado do Exército Vermelho. Não muito agradecida, a União Soviética de Stalin prendeu o atleta durante 1 ano por ter supostamente participado de um dos inúmeros complôs imaginários, através dos quais, o regime utilizava como arma para colocar o terror na população. Durante a Grande Guerra Patriótica, ele novamente pegou o fuzil para defender a pátria mãe como comandante adjunto (com o grau de engenheiro militar) no 333º batalhão do front de Leningrado. Foi capturado pelos alemães e preso em um campo de concentração em Nuremberg. Foi libertado pelas tropas aliadas no dia 25 de abril de 1945. Vassili é um belo e triste resumo da história da URSS.

4 – Fritz Walter

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Ídolo do Kaiserlautern, o craque Fritz teve que dar um tempinho na sua carreira para participar dos anseios expansionistas do III Reich. Foi na Lorena, ocupada pelos nazistas, que Fritz Walter conseguiu achar um tempinho para dar alguns chutes no Thionville FC. Transferido para lutar na Córsica, Sardenha e por fim na Ilha de Elba, Fritz acabou sendo capturado pelo Exército Vermelho. Conseguiu escapar da morte graças à sua fama futebolística. Quase dez anos depois da guerra, ele seria um dos lideres do orgulho alemão retomado, graças a vitória inesperada da Nationalmannschaft contra a fortíssima seleção húngara, em 1954.

5 – Tofik Bakhramov

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Tofik era um clássico cidadão soviético. Ex-jogador do Neftchi Baku, ele sobreviveu às purgas stalinistas da Grande Guerra Patriótica, na qual deixou passar seus mais lindos anos, como muitos jovens de sua geração (a URSS pagou o maior tributo humano na Segunda Guerra Mundial, foram 26 milhões de mortos contra 400 000 estadunidenses). Ferido, ele virou árbitro de futebol, logo após a chegada da sonhada paz. Sua carreira chegou ao auge quando apitou a final do Mundial de 1966, entre Inglaterra e Alemanha, validando o famigerado gol, ilegítimo, de Geoffrey Hurst. As más línguas dizem que o gol serviu de vingança pela sanguinolenta batalha de Stalingrado.

6 – Stanley Matthews

Jogador emblemático do Stoke City, Stanley foi voluntario da Royal Air Force se instalando na base área ao lado de Blackpool. Ele conseguiu defender seu ex-clube assim como no Blackpool, onde estava sediado. Ele jogou também pelo Arsenal (com o elenco diminuído por conta dos esforços de guerra) numa partida contra o Dínamo de Moscou em 1945. Neste jogo, diz a lenda que os soviéticos venceram o jogo com 12 jogadores em campo.

7 – Absjörn Halvorsen

Bom jogador norueguês do HSV Hamburgo, decidiu voltar para casa em 1933, ano da chegada de Hitler ao poder. Ele treinou a sua seleção nacional ganhando uma medalha de bronze em Berlin, em 1936. Em 1940, a Noruega foi invadida pela Wehrmacht. Absjorn organizou o boicote esportivo e as autoridades alemães não esqueceram disso. Voltou bem debilitado dos campos de concentração. Pendurou as chuteiras mas não abandonou o futebol, se tornando o presidente da Federação Norueguesa.

8 – Akira Matsunaga

Nos anos 30, o futebol japonês dava os seus primeiros passos. O jovem Akira vestia a camisa da seleção imperial durantes os Jogos Olímpicos de 1936, em Berlin. O grande destaque foi a vitória inédita diante da seleção sueca. Chamado para lutar no Pacífico, Matsunaga morreu na tenebrosa batalha de Guadalcanal em 1942. Um dos piores combates do front oriental.

9- Milutin Ivković

Lateral direito do SK Jugoslavija e depois do BASK Belgrado, Miluton esteve presente nos Jogos Olímpicos de 1928 e depois no Mundial de 1930, quando os iugoslavos terminaram na quarta colocação. Jogador engajado e patriota, liderou o boicote aos Jogos Olímpicos a serem disputados em Berlim. Durante o conflito armado se juntou a resistência comunista e foi preso no dia 24 de maio de 1943, em Jajinci, e posteriormente fuzilado. Herói dos partizans, ficou pra sempre na memória do povo da extinta Iugoslávia.

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15 anos sem Gino Bartali

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Hoje é o dia de lembrar os 15 anos da morte de um dos maiores ciclistas da história.

No rol dos principais campeões do ciclismo está o italiano Gino Bartali (18/07/1914 – 5/05/2000).

No entanto, não foi somente nas pistas que o italiano se destacou. O Ginettaccio, assim era carinhosamente chamado, tornou-se um exemplo de altruísmo e coragem durante a Segunda Guerra Mundial.

Gino foi uma espécie de “Oscar Schindler” sobre duas rodas.

Para os italianos, ele era antes de tudo “Gino o piedoso”. O toscano rezava na linha de partida, durante a corrida, ou ainda no pódio, agradecia Nossa Senhora e todos os santos pelas vitórias. Durante este tempo, o piemontês Fausto Coppi (1919-1960), seu maior rival, dividia a admiração de seus compatriotas (dois Tours de France e cinco giros).

Na época, Gino representava a Itália rural, conservadora e católica. Tinha a aparência de um simples camponês dos Apeninos. Enquanto que Coppi era um personagem moderno, galã, o autentico latin lover.

 

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A Guerra
De setembro de 1943 até maio de 1944, quando as competições ciclísticas estavam suspensas por conta da ocupação alemã na Itália, Bartali decidiu ser o “carteiro” de uma rede de resistência.

Essa organização de ajuda aos judeus refugiados recebeu o importante apoio de um grupo católico, formado por padres oblatas da cidade de Lucca, o arcebispo de Genova, frades franciscanos e irmãs da Ordem de Santa Clara.

A guerra interrompeu as principais competições da Europa, restando ao herói apenas as provas bufas dedicadas à gloria do fascismo e de Mussolini, as quais Gini se recusou a  participar.

Porém, o campeão não ficava parado. Com sua bicicleta “Legnano”, Gino dizia a sua companheira Adriana que “iria fazer uma longa pedalada”. E como pedalava o jovem toscano. Direção Assis, na Umbria, Viareggio ou Genova. 200, 300 ou até mesmo 400 quilômetros de uma só vez. Sob o selim, fotos de identidade eram escondidas. Ele as levava ao convento de San Quirico. Neste local, as freiras colavam as fotos em documentos falsificados. Depois, Gino pedalava para Florença até a doceira de seu amigo Emilio Berti, que por sua vez, levava os documentos para o arcebispo Elia Angelo dalla Costa e ao rabino Nathan Cassuto, que organizavam a emigração dos judeus refugiados.

Graças a essas falsificações e a dedicação de Bartali, mais de 800 judeus foram salvos da barbárie nazista.

Conheça a música de Paolo Conte em homenagem a Gino Bartali:

 

O reconhecimento

A prefeitura de Florença consagrou um “Jardim dos Justos no Mundo” onde cada árvore simboliza os homens que se dedicaram a salvar vidas.

A primeira foi plantada em homenagem ao florentino Gino Bartali.

Paolina Meyer, sobrevivente do holocausto graças às pedaladas do campeão, veio especialmente de Jerusalém para a solenidade.

Bartali também foi homenageado post-mortem com a honrosa condecoração da República Italiana a “Medaglia d’oro al Merito Civile”.

Somente em 2013, o herói italiano recebeu uma das mais importantes homenagens. Ele foi inscrito no memorial judeu Yad Vashem, em Jerusalém, tornando-se um justo entre as nações. Os Não-Judeus que salvaram Judeus durante o período do Holocausto, com risco das próprias vidas, são honrados pelo memorial.

 

As conquistas

Ginettaccio teve em seu currículo uma extraordinária lista de troféus, tornando-se um verdadeiro mito da história do ciclismo italiano. Os números confirmam: Ele ganhou duas vezes a volta da França (1938 e 1948), três vezes a volta da Itália, o famoso “Giro d’Italia (1936, 1937 e 1946), mas também a corrida Milão – San Remo (1939, 1940, 1947, 1950), três voltas da Lombardia (1936, 1939, 1940), duas voltas da Suíça (1946, 1947), quatro vezes campeão da Itália (1935, 1937, 1940, 1952), cinco voltas da Toscana (1939, 1940, 1948, 1950, 1953); três voltas do Piemonte (1937, 1939, 1951); dois campeonatos de Zurich (1946, 1948); duas voltas da Emilia Romanha (1952, 1953); duas voltas da Campania (1940, 1945); a copa Bernocchi (1935), a corridaTre Valli Varesine (1938),a volta da Suíça Romanda (1949) e a volta do País Basco(1935).

 Documentário sobre Gino (legenda em espanhol)

https://www.youtube.com/watch?v=68VVOAvY72g

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