Um Conto de Fadas na Vida Real

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Tenho muita dificuldade para entender as pessoas que afirmam categoricamente que futebol é negócio. No limite, o futebol profissional jogado nas principais divisões dos maiores países do mundo contempla um modelo de gestão que por vezes se assemelha ao de uma empresa, mas o futebol em sua essência jamais será apenas um negócio.

Todos os dias milhões de pessoas jogam bola ao redor do mundo. Moradores de rua, profissionais liberais, autônomos, bons vivants, milionários, boleiros de todas as castas, credos e idades se juntam pelo desejo de escaparem de suas vidas cotidianas e de se enxergarem como iguais dentro do campo de jogo, apesar de todas as diferenças de repertório de cada um. É uma experiência libertadora, uma fantasia, um momento no qual nos permitimos sermos os heróis que admirávamos na infância. Não à toa, é comum usarmos uniformes de algum time quando jogamos. Não é somente porque gostamos do time, mas principalmente porque queremos NOS SENTIR parte de algo maior do que nós quando jogamos.


Para a maioria das pessoas, jogar bola é algo que provê a breve loucura necessária para viver conforme as regras no restante do tempo. É o desequilíbrio pontual que precisamos para ter equilíbrio no dia-a-dia, é a faísca momentânea que combate a monotonia e o tédio duradouros. Geralmente, a nossa vida anestesia quem somos dentro de campo. Por mais que gostemos de nos gabar e exagerar, são poucas as oportunidades em que  o futebol realmente MUDA toda a vida de um jogador amador e quando isso ocorre é algo tão especial como ver uma estrela cadente ao vivo.

Em dezembro de 2004, a combinação de furacões e tsunamis devastou diversas nações e ilhas próximas ao Oceano Índico tirando a vida de 230 mil pessoas e deixando outras centenas de milhares em condições precárias. Dentre os sobreviventes, estava um garoto nascido na Indonésia chamado Martunis, de apenas sete anos de idade, que acabou perdendo a mãe e duas irmãs na tragédia. O menino foi arrastado e arremessado pelos fortes fenômenos naturais, mas conseguiu milagrosamente manter-se vivo morando sozinho em um pântano, bebendo água de poças e comendo os cup noodles que ele encontrava ao redor.

Após vinte e um dias no pântano, ele foi encontrado por alguns jornalistas que turistavam em uma praia próxima. Estava faminto, desidratado e tinha o corpo inteiro picado. Rapidamente, o garoto foi levado para o hospital para tratamento médico antes de se reencontrar com seu pai. A recuperação foi impressionante e a história ganhou o mundo. Nas filmagens que mostravam Martinus logo após ser encontrado, ele vestia uma camisa 10 de Portugal com o nome de Rui Costa nas costas e por conta disso, o garoto acabou virando herói em terras portuguesas.

Quando perguntado sobre como encontrou forças para sobreviver, o pequeno indonésio disse: “Eu não tive medo em nenhum momento porque eu ainda queria ficar vivo, encontrar a minha família e virar jogador de futebol”.

Em 2005, Ao ouvir a declaração de Martinus, Cristiano Ronaldo levantou fundos para reconstruir a casa do garoto e o convidou para ir à Portugal conhecer Eusébio e a Seleção das Quinas. Martunis e Cristiano mantiveram contato regular desde então.

Com os anos de amizade com CR7, o garoto manteve um forte laço afetivo com Portugal e na semana passada, Martunis deu o primeiro passo rumo ao sonho de poder jogar futebol profissionalmente. Ele foi contratado pelo Sporting, justamente a equipe que revelou o seu ídolo e amigo Cristiano Ronaldo.

Aos 17 anos, ele será integrado ao elenco sub-19 da equipe lisboeta.

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