De chatices, o mundo está cheio. Enólogos, ecochatos, groupies, críticos, pessoas te orientado sobre o que você deve ou não achar disso ou daquilo.
Tudo isso para viver em um mundo sem lactose, sem gordura, sem glúten, sem açúcar, sem sal, sem tabaco e com camisinha.
Sentir emoção hoje em dia é quase proibido e se você acha que pode comer uma maionese caseira, uma gema mole ou abrir um coco na rua, deixa o estado ficar sabendo disso! Não podemos nem mais passar mal para saber se devemos ou não arriscar de novo.
O risco virou um ativo muito raro que as pessoas não estão dispostas a pagar, mas houve um tempo em que arriscar pagava dividendos justos no futebol, o tempo da MORTE SÚBITA. E o que dizer de uma regra que mal conhecíamos e já considerávamos tanto?
Em uma época em que aceitávamos a morte como parte da vida, o nome da nova regra era lindo. Como era revigorante ver onze negros maravilhosos rompendo a barreira da luz aos 28 minutos do terceiro tempo lançando se ao ataque como se estivessem jogando a menos 6000m de altitude. Como era emocionantemente triste ver um ataque infundado gerando um contra-ataque resultante em um gol, que por sua vez gerava o fim de jogo imediato.
O primeiro crime aconteceu quando decidiram que o nome era muito forte para a geração Prozac. O remédio camufla a depressão e a dor e a morte súbita dá lugar ao Gol de Ouro.
Pouco em seguida, o Gol de ouro vira Gol de Prata: O time que é vazado no tempo extra ganha uma chance de correr atrás do placar até o final do tempo em que o gol foi concedido e nós perdemos a chance de ver as batidas do nosso coração acelerarem.
Por fim, a pá de cal. Elegem a JUSTIÇA como a maior protagonista do futebol e decidem que a prorrogação se constituirá apenas e tão somente em duas equipes cansadas, sem fome de gol, tocando a bola de um lado para o outro até a chegada das penalidades que até onde eu sei também não são o cúmulo da justiça.
A morte súbita morreu, mas se você quer comprar, é mais fácil que pão. Ela continua sendo venerada pelos mesmos torcedores escondidos em algum porão.
Seja revendo a ode à morte súbita em algum Senegal x Suécia de 2002, Brasil x Nigéria 1996 (Cuidado o Kanu que ele é perigooooooooso) ou preferindo escolher “end match as a draw” à pênaltis ou extra-time nos videogames modernos, a resistência está viva.
Antes morto do que prorrogado.