Que percepção é essa que fincou pé no imaginário de tanta gente dizendo que o futebol italiano não é lá estas coisas? O menos informado vai falar que italiano só sabe se defender. O mais nerd vai lembrar que duas das quatro Copas vencidas foram em tempos de mãos pesadas. Entre minimalismos, preconceitos e os escombros de um deboche sem motivo está a reputação azurra no tal do país do futebol.
Roberto Baggio chutou na lua a penalidade em 1994 e virou sinônimo de festa por aqui. Sabe deus como ele jogou aquele jogo – e levou perigo a Taffarel. Contundido na coxa, no sacrifício, no calor imenso, após prorrogação. Baggio foi, no caminho até a decisão em Pasadena, tão importante quanto Romário, que, diga-se de passagem, perdeu a Copa anterior e também a posterior justamente por lesão. Baggio foi um craque do nível do Baixinho, de Zidane, de Ronaldo. Se o Brasil não o enxerga, azar o nosso.
Por falar na decisão de 94: Pagliuca; Mussi, Baresi (outro jogando lesionado, por milagre), Maldini e Benarrivo; Albertini, Dino, Donadoni e Berti; Baggio e Massaro. É muito, muito time. Uma geração fortíssima que, de Signori a Del Piero, de Bergomi a Nesta, tinha profundidade, e eu me arrisco a dizer que o tetra brasileiro, ao buscar outro ponto de vista, deve agradecer a ausência de dois nomes: Vialli e Mancini.
O primeiro, alto e forte, mas ao mesmo tempo veloz e técnico, se juntaria a Baggio em 95 para ganhar a UEFA pela Juventus. O segundo se retirou da seleção pouco antes da disputa mundialista. A dupla, junta, fez da Sampdoria do começo dos anos 90 um dos times mais atraentes da década, vice-campeã da Europa tal qual a Azurra, sem eles, foi vice do mundo. Esta Sampdoria campeã italiana de 1991 é destaque na semana da Central 3, no programa Meu Time de Botão, com o convidado Leonardo Bertozzi.
Um viva à Itália dos anos 90, que tão bem reagiu ao eldorado da década anterior, quando foi a capital mundial do futebol, e que tão bem colheu os frutos de uma taça do mundo. Aquela de 1982. Que o Brasil, perdedor da vez, nunca superou, e, com um despeito formidável, condenou Paolo Rossi ao posto de um grosso sortudo que não fez nada além de três gols na tragédia do Sarriá. Assim como Schilatti, artilheiro da Copa de 90, não é digno de créditos por aqui – ora, o país dos zagueiros tem um artilheiro nato!
É lamentável que nos dois últimos Mundiais a Itália tenha feito só os três primeiros jogos. Este sim é um momento crítico. Totti, outro craque subestimado no Brasil (talvez por nunca ter jogado no Barcelona), vai aposentar-se sem enxergar um outro de sua casta nascendo. Seja como for, perdemos muito tempo negando a bola que essa gente joga. A melhor escola defensiva do mundo? Sim, e pode botar na conta o Materazzi, um excelente jogador, que fez gol e uma partidaça na Final da Copa de 2006 mas mesmo assim é só uma piada fácil em português.
É muito mais do que isso, a Itália, o Calcio.